sexta-feira, 4 de maio de 2012
De mãos dadas
Por André Pessoa
O namoro é um campo aberto onde se travam pequenas e grandes batalhas de natureza diversa.
Muitas potencialidades antes adormecidas afloram com energia. A “afetividade” se manifesta na pureza do sentimento, do contato da pele, da alegria da companhia, da afeição ao ouvir e ver o outro. A “razão”, até então senhora da situação, se assusta ao ver surgir forte oponente empenhado em tomar de assalto o controle pedaço. Se a luta existe, e não jogamos a toalha, há grande oportunidade de crescimento em força interior e conhecimento próprio.
A segunda batalha que acontece é externa. São duas pessoas com convicções e ideais diferentes. Vamos traçar dois perfis distintos. O primeiro perfil adora a vida e entende o namoro como uma oportunidade de crescer no relacionamento e na amizade, no âmbito transcendental, onde o céu é o limite. Abre sua alma com confiança, mas resguarda sua intimidade física para o momento sublime da entrega matrimonial. Tem como premissa que o sexo pode esperar. O segundo perfil também adora a vida, mas entende o namoro como meio de deixar aflorar a afetividade até as últimas conseqüências.
Quando o namoro começa, cada um expõe seu ideal de vida e estabelecem as regras do namoro. Se ambos têm ideais comuns, o namoro segue em harmonia, com maior proveito ao que corre no âmbito transcendental. Mas pode acontecer o namoro entre os dois perfis antagônicos descritos acima. Suponhamos o casal Lú e Lê, onde Lú tem como premissa que o sexo pode esperar e Lê quer curtir a vida.
Lú se encantou com a descontração de Lê, que tirou sorte grande!!! Pois Lú é um tesouro especial, com princípios arraigados, e aquilo atraiu. Iniciam o namoro, e Lê, embora ache que Lú exagere um pouco, aceita as regras. Começam o namoro de mãos dadas, com carinhos restritos a áreas neutras.
O namoro segue. Algum tempo depois, Lê começa uma estratégia de guerrilha, a deixar uma mão solta “sem querer”. Experiente, sabe os pontos em que a afetividade de Lú vem mais à flor da pele. Lú percebe, pois o efeito previsto é fisiológico. A razão fala mais alto, e reclama!!! Lê argumenta que não pretende chegar às vias de fato, e que um carinho aqui e ali é natural e não faz mal a ninguém.
A estratégia de guerrilha utilizada por Lê muda de âmbito, e reflete dentro de Lú, que se vê num dilema.
Por um lado, se mantém o firme propósito de não permitir casquinhas de tipo algum, Lú se cansará e irá embora. Está cada vez mais insistente em seus argumentos e sua paciência está se esgotando. Lê não quer perder o amor de Lú. Aparentemente teria que ceder um pouco, e tentar manter a situação sob controle.
Por outro lado, Lú está começando a conhecer a si e a natureza do ser humano. Está sentindo a tremenda força que tem a afetividade quando atiçada. Uma vez, em uma festa junina, alguém pegou um punhado de palha, jogou sobre o fogo, e depois gritou... Não queime!!! Parecia ter um parafuso a menos, pois obviamente a palha iria queimar no fogo... E queimou mesmo!! Depois se virou e disse... É isto que acontece com aqueles que pensam que permitem carícias aqui e ali, e que conseguem manter o controle da situação. Não há ser humano que tenha este controle sobre si mesmo!!! Lú está concluindo que, se aceitar as argumentações de Lê, mais cedo ou mais tarde o sexo não mais esperará, e suas convicções fluirão ralo abaixo.
Saiamos do campo de batalha e olhemos de fora a situação deste casal de namorados.
A primeira pergunta que nos fazemos é se Lê ama Lú de fato. Tem-se empenhado em seduzir Lú. Pode ser que este termo seja forte, pois o que busca é somente poder curtir um pouco mais o namoro, afinal a proposta de Lú não tem sal. Como efeito colateral, está agindo no sentido de corromper os princípios de Lú!!! Isto não é amor, mas uma atitude egoísta!!! O amor busca o bem do outro, e não advoga a favor dos próprios interesses!
Se Lê amasse de fato, deveria defender e incentivar as convicções de Lú. Tal atitude tornaria Lú um tesouro ainda mais brilhante, virtuoso e admirável. Por outro lado, se Lê consegue seu objetivo, Lú perderia suas convicções, sua identidade e deixaria de ser especial.
A luta que se trava dentro de Lú está fazendo crescer. Tem uma decisão séria a ser tomada. Lê está demonstrando falta de caráter. Insistir para que se corrija é muito perigoso, pois está forçando que sigam por um caminho minado. Seguramente haverá outra pessoa que lhe compreenda melhor, e que tenha ideais afins aos seus. Para encontrá-la, não há outra alternativa senão terminar, o quanto antes, o namoro com Lê, por mais que doa a ambos.
Por outro lado, caso Lê se desculpe, se corrija definitivamente e se esforce por ser uma pessoa digna, à altura de Lú, ambos poderão crescer juntos em valores, e vir a formar, no tempo certo, uma família com fundamentos sólidos, pautada na confiança e no respeito mútuos, conquistados a ferro e fogo.
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André Pessoa é pai de seis filhos, Mestrado em Orientação Familiar por Navarra, ministra cursos e palestras de Educação de Filhos desde 1995; Graduado pelo IME (Engenharia), Pós-Graduado pela PUC (Administração), FGV (Contabilidade Gerencial), ISE (Programa de Treinamento de Executivos) e Navarra (Orientação Familiar); Consultor da Accenture.
e-mail: andre.v.pessoa@gmail.com
Publicado no Portal da Família em 01/09/2008
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