Retirado da apostila do II Curso para Agentes do setor pré-matrimonial da Pastoral Familiar da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro. Tradução livre e resumida do livro Good News About Sex and Marriage – Answers to Your Honest Questions About Catholic Teaching, de Christopher West, por Tatiana de Melo. Só pode ser utilizado mencionando-se as fontes e sua cópia não pode ser usada para fins lucrativos.
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O que vem antes do ‘sim’?
A Castidade fora do Matrimônio
Quem não decide amar para sempre, terá dificuldades de amar até mesmo por um dia.
(Amor dentro das Famílias, 799)
Falar daquilo que se pode ou não se pode fazer é inevitável em qualquer discussão sobre moral. A pessoa que teve o coração transformado por Cristo não vê isso como uma forma de querer se “livrar” de nada, mas de procurar o que realmente significa seguir Cristo como um modelo de amor e doação. Essa pessoa não encara os ensinamentos da Igreja como uma imposição e sim como aquilo que realmente são: a verdade sobre o amor que Deus escreveu em cada um de nós.
Oremos: Senhor, Jesus, ajudai-me a ver que os ensinamentos morais da sua Igreja não são padrões impessoais e impostos de um código moral arbitrário, mas que são verdadeiramente o desígnio de Deus escrito em meu coração de homem (mulher) e através do qual eu descubro o verdadeiro sentido da vida e do amor. Tocai meu coração para receber e acolher esta verdade que me liberta. Amém.
1. O que significa a castidade?
A palavra castidade tem sido vista com um sentido muito negativo e precisa ser melhor esclarecido. Castidade é uma virtude positiva porque ela coloca ordem os desejos sexuais, pensamentos e comportamentos, direcionando à verdade do amor autêntico.
Ao contrário de ser um “não”, a castidade é um “sim” ao verdadeiro significado do sexo e à bondade do ser humano, criado homem e mulher à imagem de Deus. Ela não é repressiva, mas libertadora. Torna-nos livres da tendência de usarmos os outros para nossa auto-satisfação e nos capacita para amarmos como Jesus amou.
2. O que impede dois adultos livres que se amam de terem relações sexuais? Que diferença o matrimônio faz, afinal?
O que um homem e uma mulher que não-casados expressam um para o outro com o sexo? É verdadeiramente “amor”?
O amor não é aquilo que eu quero que ele seja. Não é um sentimento carinhoso, mas é uma decisão. Emoções e atração fazem parte, mas são apenas a pedra bruta do amor. A graça é capaz de lapidá-la e transformá-la no diamante do verdadeiro amor, que escolhe sempre o bem do outro.
O amor sexual é uma entrega total, fiel e fecunda de si para o amado. Essa é a linguagem da relação sexual, a linguagem do amor de Deus. Essa é a linguagem da aliança matrimonial. Menos que isso é falsidade.
A comunicação deve levar à verdade. Assim também é com a linguagem do corpo. Dois adultos “livres” que mantém relações sexuais sem o compromisso matrimonial são falsos profetas. Eles dizem com seus corpos: “Eu sou seu inteiramente e para sempre.”, mas isso é mentira.
Que diferença a certidão de casamento faz? Em si mesma, nenhuma, pois é só um pedaço de papel. Mas ele indica que Deus estabeleceu um vínculo matrimonial entre os esposos e isso faz toda diferença! Ao subirem ao altar e declararem seu consentimento perante a Igreja, isso não é simplesmente um reconhecimento de algo que já existe em eles. Naquele exato momento eles, de fato, são transformados, tornando-se marido e mulher. O que não existia cinco minutos antes, existe agora: o vínculo conjugal selado pelo Espírito Santo e que, uma vez consumado, só a morte poderá dissolver.
E a relação sexual é a expressão dessa aliança. Por isso, independentemente dos sentimentos e da paixão que existam, a relação sexual sem essa aliança nunca será um ato de amor verdadeiro. O casal que não entende isso ainda não compreendeu o verdadeiro sentido do sexo e do casamento.
3. Mas como posso ter essa compreensão sobre o sexo se já não sou mais virgem?
À luz da redenção advinda a nós por Cristo, nada está perdido, nada tem mais poder do que a Cruz de Cristo. Isso significa que há sempre uma possibilidade de renovarmos os nossos pensamentos (cf. Rm 12, 1-2).
Não podemos subestimar os ensinamentos de Cristo porque eles são realmente difíceis. É fácil amar os inimigos? É fácil negar-se a si mesmo e carregar a cruz? É fácil ser pacífico, misericordioso ou pobre de espírito? Quem de nós, por suas próprias forças consegue banir a luxúria do seu coração?
Lembremos que todas as coisas são possíveis a Deus (cf. Mt 19, 26) e oremos:
Senhor, vinde em meu auxílio. Concedei-me a graça de confiar-me a ti em corpo e alma. Coloco aos vossos pés minhas esperanças e meus medos, minhas conquistas e meus fracassos, minha força e minha fraqueza, meus pecados e meus desejos. Ajudai-me a ser o homem (a mulher) que sonhastes. Renovai minha mente para que entenda o grande dom do sexo e do casamento como originalmente os criastes. Amém.
4. Estamos noivos e, em nossos corações, temos a certeza de que estamos realmente comprometidos um com o outro. Não deveríamos expressar esse compromisso através do sexo?
Consideremos novamente o que o sexo expressa: é a forma visível (física) de expressar o vínculo invisível (espiritual) do sacramento do matrimônio, que por sua vez é sinal do amor de Cristo pela Igreja. Não se trata de uma expressão dos sentimentos que trazemos nos nossos corações.
O sexo é parte integral do sacramento do matrimônio que, para nós católicos, só acontece quando o noivo e a noiva proferem o consentimento válido na presença do sacerdote ou diácono e de duas testemunhas. Não é apenas um sentimento em seus corações, mas a partir deste momento eles estão realmente comprometidos.
Quem está noivo tem um compromisso sim... o compromisso de se casar!
5. Meus pais e os pais da minha namorada são divorciados, por isso decidimos morar juntos primeiro para ver se somos realmente compatíveis antes de assumirmos um compromisso definitivo. Parece-nos o mais sensato a se fazer. Por que estaríamos em pecado diante da Igreja?
À primeira vista parece que há mesmo uma certa lógica na idéia de experimentar antes de assumir um compromisso sério e permanente. Porém, como já vêm demonstrando inúmeras pesquisas, em vez de ser uma preparação para o casamento, esse tipo de experiência é mais uma preparação para o divórcio. Para muitos de nós, a sociedade roubou-nos as ferramentas necessárias para entendermos o verdadeiro sentido da sexualidade. Para muitos, a idéia da virgindade num casal é arcaica.
Um casal que coabita, mas não está unido em matrimônio, está em pecado porque vive o sexo de uma forma mal-compreendida e abusiva, fora do casamento. O mesmo vale para namorados e noivos que mantém relações sexuais, ainda que não morem juntos. Segundo estudos recentes, em ambos os casos o risco de divórcio é três vezes maior do que os casais que não tiveram vida sexual antes do casamento. Não é coincidência a relação entre o aumento da vida sexual fora do casamento e aumento do número de divórcios. Por quê?
- Manter relações sexuais em relacionamentos transitórios, descompromissados e fechados à vida em nada ajuda a preparar o casal para um compromisso eterno, indissolúvel e fecundo. Esses casais são “treinados” para justamente para o contrário do que o matrimônio exige.
- Sujeitar o outro a esse tipo de relacionamento nada ajuda também a preparar para a vivência do amor autêntico que sacrifica a si mesmo pelo bem do(a) amado(a).
- Ter vida sexual fora do casamento implica admitir esse tipo de relacionamento como algo possível e normal. Daí para o adultério, maior causa dos divórcios, é apenas um passo.
- O sexo antes do casamento mascara uma série de vícios (luxúria, egoísmo, vaidade e outros) que podem destruir qualquer relacionamento saudável. Além disso, esse tipo de comportamento vai de encontro à virtude da castidade que norteia a vivência do verdadeiro sentido da sexualidade dentro e fora do matrimônio.
- A intimidade sexual turva o discernimento do casal quanto a uma série de outras questões que são fundamentais no tempo do namoro para que se possa construir uma família sólida no futuro.
- Ao optarem por ter uma vida sexual ativa fora do casamento, o homem e a mulher livremente excluem a graça de Deus do seu relacionamento. E, sem ela, é impossível aprender a amar como Jesus nos amou.
Fazer esta experiência de “morar junto” é, enfim, construir a casa na areia (cf. Mt 7,26). Não há maior garantia de um casamento bem sucedido do que exercitar-se nas virtudes que são necessárias para tal. Mas não importa a longa lista de pecados que tenhamos. Nada escapa à obra redentora de Cristo que quer curar nossas feridas e nos ensinar a amar. Basta abrirmos a Ele o nosso coração.
6. Eu e meu namorado nos amamos e temos uma atração física muito forte um pelo outro? Até onde podemos ir?
Até onde se pode ir? Bom o que vamos dizer se aplica ao limite de todos nós em todos os relacionamentos românticos: namoro, noivado ou casamento. No seu livro, Amor e Responsabilidade, João Paulo II fala de um princípio moral que deve guiar todos os nossos relacionamentos: é norma personalista. Ela ensina que nunca, sob nenhum pretexto, alguém pode usar uma pessoa, pois cada ser humano é dotado de incomparável dignidade. A essência de todas as distorções nos relacionamentos está em queremos usar o outro para nossa satisfação física e emocional e acharmos normal dizer que isso é “amor”.
Passamos do limite em nosso coração – desde um simples andar de mãos dadas até o ato sexual – toda vez que buscamos a satisfação pessoal como um fim em si mesma. Nosso corpo precisa expressar o verdadeiro amor. Por causa da nossa natureza decaída, às vezes, os sentimentos ficam confusos, pois precisamos sempre da graça divina que vem em socorro da nossa fraqueza.
Até onde podemos ir? Ora, se o ato sexual não faz parte do seu estado de vida (para namorados e noivos) então fique longe do que poderia te levar ao orgasmo, expressão máxima da consumação do ato conjugal. Usando uma comparação simples: para que ligar o motor do carro se você não sabe dirigir? Criem situações, portanto, que favoreçam a busca do verdadeiro amor e o exercício da castidade: namorem em lugares públicos (restaurantes, festas, shopping centers, praia), saiam com os amigos, convivam em família, pratiquem um esporte... tudo isso ajuda.
Vejam bem: a mudança de comportamento não deve vir da obediência a um código moral arbitrário, mas da necessidade de transformarmos o nosso coração para aprendermos a amar como Deus ama. Deus colocou em nós o desejo sexual – acredite – para nos ajudar a nos aproximarmos Dele, do seu jeito de amar! A luxúria e a auto-satisfação são um desvio, uma falsidade. A mais simples manifestação de afeto -- um abraço, um beijo, um afago – nos conduzem muito mais à verdadeira felicidade do que um encontro sexual ilícito. E sabe por quê? Porque são gestos genuínos, reais, verdadeiros, não buscam nada em troca. Quem viver a castidade antes do casamento, estará preparado para vivê-la depois.
Nós não somos animais fora de controle. A libertação da luxúria foi ganha a um preço alto: a morte de Cristo na cruz. O egoísmo precisa morrer para que em nós possa ressuscitar o amor. Rezemos:
Senhor Jesus, vinde até o mais íntimo do meu ser. Transformai meus desejos sexuais em amor. Tornai-me casto(a) e dai-me experimentar a liberdade que para mim compraste com teu sangue. Amém.
7. A Igreja realmente ensina que masturbação é pecado? Não é normal e até desejável que os adolescentes conheçam o seu corpo?
Sim, a masturbação é uma desordem. É compreensível que o despertar dos hormônios torne os adolescentes curiosos quanto ao seu próprio corpo e acabem caindo na tentação de experimentarem a masturbação. Mas isso não muda o fato de que, objetivamente, masturbação seja pecado.
A masturbação só parece “normal” da perspectiva da nossa natureza decaída que foi justamente o que Cristo veio restaurar. É preciso, então, uma mudança de paradigma.
O sexo é simbólico, ele simboliza o amor perfeito de Deus por nós. A masturbação, em vez de nos conduzir a Deus, nos leva... a nós mesmos. Simboliza isolamento, solidão, auto-piedade, egoísmo, esterilidade. Alguém que é exercitado nestes tipos de comportamentos terá muita dificuldade para aprender o verdadeiro sentido do sexo e do amor, que devem nos levar ao encontro com nosso fim último: Deus.
8. Para quem é casado é fácil falar... Mas o que eu faço, então, com meus desejos se eu não posso ter relações sexuais e nem me masturbar? Eu não vou acabar explodindo?
Existe uma grande diferença entre repressão e redenção da sexualidade. Quem vive a sexualidade como quem carrega um fardo imposto pela Igreja, só “varre poeira para debaixo o tapete”. Os desejos sexuais são uma arma poderosa que não deve ser guardada, mas colocada a serviço do amor verdadeiro. Isso é a redenção da nossa sexualidade. Não é fácil, é uma batalha longa espiritual (cf. Ef 6, 12) na qual devemos sempre nos perguntar: “Eu controlo meus impulsos sexuais ou eles me controlam?”. Quanto mais permitirmos que Cristo purifique os nossos desejos, mais livres seremos. E isso vale para solteiros e casados.
Oremos: Senhor Jesus, coloco em vossas mãos os meus desejos sexuais. Desfazei o que o pecado fez em mim para que eu experimente a verdadeira liberdade e viva minha sexualidade conforme o teu desígnio. Concedei-me fortaleza diante das tentações, pureza de coração e a graça de resistir às mentiras que continuamente tentam me afastar da verdade sobre o amor. E que, assim, eu seja imagem e semelhança da vossa glória e da vossa beleza aos outros e possa, um dia, contemplar-vos face a face. Amém.
9. O que há de tão errado com a pornografia?
Não se pode negar que a pornografia é, de fato, atraente. Novamente: se ainda estamos presos à perspectiva da nossa natureza decaída, o que há de tão errado nisso? Usando um exemplo bem simples, se a luxúria é um fogo que queremos que Cristo apague, a pornografia é o ventilador. É um uso, mais ainda, um abuso da beleza original do corpo humano. O problema da pornografia não que ela mostra coisa de mais de uma pessoa, mas coisa de menos... O ser humano é muito mais e precisa de muito mais!
O corpo humano usado intencionalmente para suscitar no outro um desejo sexual fora do sacramento do matrimônio não poderia nos afastar mais do verdadeiro sentido do sexo.
E mais um agravante: com o avanço da pornografia, a mulher, especialmente, está refém da ditadura de um ideal inatingível de beleza e vê-se quase que obrigada a alcançá-lo a qualquer preço. Nada mais degradante!
Jesus nos ensinou os meios de alcançarmos a verdadeira felicidade. Um deles é através da virtude da pureza: “Felizes os puros de coração, porque verão a Deus.” (Mt 5, 8). À medida em que o sentido verdadeiro do sexo preenche o nosso coração, não precisamos de pornografia.
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