segunda-feira, 28 de maio de 2012

A Boa Nova do Sexo e do Casamento 3


Retirado da apostila do II Curso para Agentes do setor pré-matrimonial da Pastoral Familiar da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro. Tradução livre e resumida do livro Good News About Sex and Marriage – Answers to Your Honest Questions About Catholic Teaching, de Christopher West, por Tatiana de Melo. Só pode ser utilizado mencionando-se as fontes e sua cópia não pode ser usada para fins lucrativos.




Você diz ‘sim’ pra quê?
O básico sobre o matrimônio na Igreja

Há pessoas que tentam ridicularizar e até negar a idéia de uma aliança fiel que dura toda a vida. Estas pessoas – você pode ter certeza – não sabem o que é o amor.
(Amor dentro das Famílias, João Paulo II, 23 de abril de 1987, 799)

Hoje em dia parece que o casamento se tornou algo “relativo”: ele é definido como aquilo que cada pessoa quer que ele seja. Mas para que haja, de fato, o matrimônio, é preciso que ele esteja de acordo com a vontade de Deus e não com as minhas vontades. 

1. O que é o casamento, afinal, aos olhos da Igreja Católica?
Casamento é a comunhão íntima de vida e de amor entre um homem e uma mulher, que acontece de forma exclusiva e indissolúvel, conforme o desígnio do Criador, tendo em vista o bem do próprio casal e a procriação e educação dos filhos. Este consórcio entre dois batizados foi elevado por Cristo à dignidade de um sacramento. (cf. CIC – Código de Direito Canônico, 1055: “O pacto matrimonial, pelo qual o homem e a mulher constituem entre si o consórcio de toda a vida, por sua índole natural ordenado ao bem dos cônjuges e à geração e educação da prole, entre batizados foi elevado por Cristo Senhor à dignidade de sacramento.”)
- Comunhão íntima de vida e de amor. O matrimônio é o relacionamento mais íntimo que existe, tanto que os dois se entregam tão completamente a ponto de se tornarem “um” sem deixarem de ser “dois”. 
- Exclusiva. Exige fidelidade total para sua própria felicidade e o bem dos filhos.
- Indissolúvel. Marido e mulher não são unidos por uma emoção ou mera inclinação erótica. São unidos por Deus por um laço inquebrantável de amor, isto é, o próprio Espírito Santo, por meio do livre consentimento de ambos. Portanto, o divórcio não é errado; ele é impossível.
- Entre um homem e uma mulher. A complementaridade dos sexos é essencial no casamento.
- Conforme o desígnio do Criador. Deus é o Autor do casamento. Os seres humanos, portanto, não têm o direito de querer mudar seu significado e suas finalidades.
- Tendo em vista o bem do próprio casal. “Não é bom que o homem esteja só...” (Gen 2,18). O casamento ajuda no enriquecimento e, finalmente, na salvação da pessoa.
- E a procriação e educação dos filhos. Os filhos não são um apêndice do amor conjugal, mas brotam com conseqüência absolutamente natural da íntima doação entre os esposos. A exclusão intencional dos filhos contradiz frontalmente a natureza e o propósito do casamento.
- Consórcio/pacto.  O matrimônio é uma aliança sagrada, um pacto que tem responsabilidades e direitos garantidos por leis que estão muito acima dos preceitos meramente humanos.
- Dignidade de um sacramento. Pela virtude dos seus batismos, o matrimônio entre os esposos cristãos é sinal eficaz da união entre Cristo e a Igreja, por meio da graça.

2. O que faz do matrimônio um sacramento?
A resposta é simples: o Batismo. À primeira vista, de todos os sete sacramentos, o matrimônio é o que menos se parece com um deles por ser comum a todas as culturas. Como uma realidade tão “terrena” pode se tornar sagrada?
Há um abismo infinito entre criatura e Criador. A maravilha dos sacramentos está em serem a ponte que liga esta duas realidades e coloca os homens em comunhão com Deus. O Deus invisível se revela a nós pelos sacramentos. O Deus intocável, pelos sacramentos, se deixa tocar. O espiritual não deprecia o material. 
O Catolicismo é uma religião profundamente sensorial. É pelos sentidos que nos encontramos com o divino. Nós nos tornamos participantes da vida divina molhando o corpo com água (Batismo), pela imposição das mãos, ungindo o corpo com óleo (Crisma, Ordem e Unção dos Enfermos), confessando com nossos lábios (Reconciliação), comendo e bebendo o Corpo e Sangue de Cristo (Eucaristia) e nos tornando uma só carne (Matrimônio). 
O encontro matrimonial representa o encontro com Cristo e é pela relação sexual que os esposos vivem esse matrimônio. Diz João Paulo II: “O sacramento (do matrimônio), como sinal visível, é constituído da masculinidade e da feminilidade. O corpo, e somente o corpo, é capaz de tornar visível o que é invisível: o espiritual e o divino. Ele foi criado para transferir para a realidade visível do mundo o mistério escondido pela eternidade em Deus e do qual é sinal.” (Teologia do Corpo 19, 4). O matrimônio revela a vida trinitária que Deus quis partilhar conosco nesta vida. O sacramento é um sinal eficaz que comunica o que simboliza. Assim, o amor entre homem e mulher não só simboliza, mas realiza (torna real) a comunhão entre Cristo e a Igreja. E, como todos os sacramentos, em última análise, têm por objetivo nos levar a esta comunhão, o matrimônio é o protótipo de todos os sacramentos. A união entre os esposos é a chave para entender todo mistério da vida cristã, é o fundamento para a ordem sacramental.
“Toda vida cristã traz a marca do amor esponsal de Cristo e da Igreja. Já o Batismo, entrada no povo de Deus, é um mistério nupcial: é, por assim dizer, o “banho das núpcias” que precede o banquete de núpcias, a Eucaristia. O Matrimônio cristão se torna, por sua vez, sinal eficaz, sacramento da aliança de Cristo e da Igreja. O Matrimônio entre batizados é um verdadeiro sacramento da nova aliança, pois significa e comunica a graça.” (CCE, 1617) 

3. Por que os ensinamentos da Igreja contra o divórcio prendem algumas mulheres em relacionamentos abusivos, sem escapatória?
Nesses casos a Igreja reconhece a necessidade dos casais viverem separados, obtendo, se preciso, o divórcio civil. Mas ainda assim, um matrimônio válido, só acaba com a morte.

4. Se a Igreja acredita que o casamento é “até que a morte os separe”, então porque há a possibilidade de anulação?
Veja bem, a Igreja não anula um matrimônio. Isso seria um “divórcio disfarçado”. A Igreja pode, sim, conferir uma declaração de nulidade que é um pronunciamento oficial de que um matrimônio, na verdade, não existiu por causa de alguma falha ou impedimento.

5. O que torna um matrimônio válido?
O consentimento manifestado legitimamente por um noivo e uma noiva qualificados. Para que um matrimônio católico seja considerado válido é preciso que os noivos: (1) não apresentem impedimentos canônicos (cf. CIC 1083-1090), (2) sigam a fórmula correta do sacramento (cf. CIC 1108), (3) tenham a capacidade de trocarem esse consentimento de forma livre e incondicional (cf. CIC 1095, 1102-1103) e (4) estarem de acordo com o que a Igreja pretende com o matrimônio: fidelidade, indissolubilidade e abertura à geração dos filhos. 

6. O que significa a recusa deliberada ao consentimento matrimonial?
Acontece quando, na celebração do matrimônio, os lábios dizem “sim”, mas a vontade diz “não”, pois a pessoa é contra as promessas.
Fidelidade. O matrimônio exige, por natureza, fidelidade de corpo, mente e coração. Não existe “casamento aberto”.
Indissolubilidade. O matrimônio estabelece um vínculo inquebrantável, para toda a vida. É tudo ou nada. Quem pensa: “Vamos casar, se não der certo a gente separa.” está frontalmente contra esse princípio básico.
Abertura à geração de filhos. Um casal que não tem absolutamente nenhuma intenção de ter filhos não deve contrair o matrimônio.

7. E se um casal achar que simplesmente não tem capacidade para serem bons pais? A Igreja não vai permitir que eles se casem? 
A questão não é a Igreja deixar ou não que eles casem e sim que eles são contra um princípio básico do casamento que é a possibilidade de que Deus abençoe seu relacionamento sexual com filhos. Ou seja, eles é não querem se casar. Além do mais, o amor que é exigido para ser um bom marido ou esposa é o mesmo para ser um bom pai ou mãe. Quem acha que não está pronto para ser um bom pai ou mãe, também não está pronto para ser um bom cônjuge.

8. E se um casal não puder ter filhos, o matrimônio é válido?
O matrimônio continuará sendo intrinsecamente bom e válido. A infertilidade não-intencional não é impedimento. Os filhos são um dom, um presente dado por Deus.

9. Por que a Igreja é tão insensível ao negar o matrimônio quando o homem sofre de impotência? Afinal, sexo não é tudo no casamento...
É verdade, o sexo não é tudo no casamento, mas ele é tão fundamental que, se não houver possibilidade alguma de ocorrer a relação sexual, não pode haver o matrimônio.
Não deixemos que nossos sentimentos de solidariedade turvem nossa razão ou tentem mudar uma verdade objetiva. Por exemplo: devemos ser solidários com os cegos, mas nem por isso podemos mudar o fato de que eles não podem dirigir, por mais triste que isso seja. O sexo é o elemento que define o amor matrimonial. Ele não é tudo (assim como a visão não é tudo quando se fala em direção), mas, como na metáfora apresentada, é algo muito básico (cf. Mt 19,12).
O que ocorre é que, com a dita “revolução sexual”, o sexo não mais expressa o compromisso matrimonial e sim um desejo por prazer, intimidade e auto-satisfação. Mas na perspectiva do real sentido do sexo, um casamento assim seria impossível. Quem não pode manter relações sexuais não é incapaz de amar, absolutamente, mas... não pode assumir os compromissos que exigem o amor matrimonial.

10. Por que a Igreja não reconhece que alguns matrimônios simplesmente não deram certo e admite o divórcio?
É claro que o bom senso e a Igreja admitem que alguns casamentos realmente não deram certo e para esses casos é necessária a separação. Mas admitir o divórcio é bem diferente. Isso seria como desmerecer o amor de Deus, já que o casamento é o encontro do divino com o humano.
Mas nós somos capazes de amar como Deus nos ama? Por nossos próprios méritos, não, mas “... com Deus tudo é possível.”. Não é a toa que Jesus afirma isso logo após sobre a indissolubilidade do matrimônio (cf. Mt 19, 1-11.26). O amor de Deus foi derramado em nossos corações (cf. Rm 5, 5) – é o Espírito Santo --, por isso mesmo a permanência no matrimônio é uma questão de fé. 

11. Mas até Jesus não admitiu o divórcio em caso de adultério?
Em Mt 5,32 e 19,9 Jesus proíbe o divórcio, com exceção do adultério. Na verdade, o termo que aparece no grego (porneia) tem como tradução mais correta “impureza” o que remete os exegetas a Lv 18, 6-16 que trata, na verdade, da proibição de relações incestuosas. Seria totalmente contraditório ao sentido do matrimônio se Jesus defendesse o divórcio.

12. Meu irmão é um bom católico, mas não conseguiu a nulidade do seu matrimônio. Ele ama Deus e sua nova esposa. Por que a Igreja continua sendo tão dura e eles não podem comungar?
O amor de Cristo acolhe a todos. Mas sabemos que Deus “Ama o pecador, mas odeia o pecado.”. Assim, para uma pessoa que vive em contradição com aquilo que a Eucaristia significa – a consumação do matrimônio entre Cristo e a Igreja --, ou seja, para uma pessoa que está em estado de pecado e não tem intenção de viver segundo os ensinamentos de Cristo seria extremamente hipócrita receber a Comunhão.

13. Toda vez que eu me lembro daquela passagem: “Esposas sede submissas aos vossos maridos...” eu sinto arrepios. Como eu posso concordar com algo que denigre a figura da mulher?
Este é apenas um trecho de Ef 5, 21-33, que deve ser entendido no seu contexto. De fato, Deus convoca as esposas à submissão. “Sub” – sob, abaixo -, ou seja, a estarem sob a missão dos seus maridos. E qual é a missão dos maridos (cf. v. 25)? Amar as esposas com o mesmo amor com que Cristo amou sua Igreja e se entregou por ela! O que significa, então, que as mulheres sejam submissas aos seus maridos? Deixar que eles as sirvam e as amem com o mesmo amor de Cristo! Quem ficou com a parte mais difícil, agora?!

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