domingo, 27 de maio de 2012

A Boa Nova do Sexo e do Casamento 2

Retirado da apostila do II Curso para Agentes do setor pré-matrimonial da Pastoral Familiar da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro. Tradução livre e resumida do livro Good News About Sex and Marriage – Answers to Your Honest Questions About Catholic Teaching, de Christopher West, por Tatiana de Melo. Só pode ser utilizado mencionando-se as fontes e sua cópia não pode ser usada para fins lucrativos.



Quem disse isso?
A autoridade da Igreja e algumas questões preliminares

Ninguém é tão livre quanto aquele capaz de renunciar à sua própria vontade para fazer 
a vontade de Deus. 
(Autor desconhecido)

As pessoas detestam ter alguém dizendo o que elas devem ou não devem fazer. E isso, de fato, tem um fundamento na nossa liberdade enquanto seres humanos. Isto é, quando somos forçados a fazer alguma coisa, nos sentimos atingidos em nossa dignidade.
Mas essa atitude tem um outro aspecto que é a realidade do pecado original: nós não queremos que ninguém, nem mesmo Deus, nos diga que alguma coisa que queremos muito é errado. Nós queremos determinar o que é bom ou mau para a nossa vida.
O orgulho humano se rebela contra autoridade. Quando a autoridade é abusiva, devemos protestar, mas quando a autoridade é exercida de acordo com a vontade de Deus, se quisermos ser verdadeiramente livres, então devemos obedecê-la. Esse é o paradoxo do Evangelho: se morremos, viveremos (cf. Jo 12, 24), se perdermos nossa vida, vamos achá-la (cf. Mt 16, 25), se obedecermos a verdade, ela nos libertará (cf. Jo 8, 32).
A obediência em si não está relacionada à força ou ao medo, mas ao amor, ao bem, à verdade, ao belo – amor a Deus! Liberdade é a liberação de todo tipo de restrição interna que nos impede de escolhermos o que é bom. A pessoa verdadeiramente livre não vê os mandamentos de Deus como um fardo. A pessoa verdadeiramente livre anseia fazer a vontade de Deus, vontade que ele revelou para nós, através do magistério da Igreja.

1. Quem determina o que a Igreja ensina? A Igreja não é formada por todos nós?
É Cristo quem determina essa autoridade que é dada a alguns membros da Igreja. O Magistério oficial é encargo do Papa e dos bispos em união com ele. Essa é a hierarquia (que significa “ordem sagrada”). São Paulo já dizia que no corpo de Cristo cada membro tem uma função diferente (cf. I Cor 12). Aqueles na Igreja que ensinam com a autoridade de Cristo foram ordenados para tal. O Magistério é um dom para a Igreja e para o mundo porque nos dá a certeza de sabermos a vontade de Deus.

2. De onde a Igreja tirou essa idéia de ter um magistério oficial?
Cristo fundou sua Igreja sobre São Pedro, o chefe dos Apóstolos e lhe deu “a chave do Reino dos Céus” (cf. Mt 16, 13-20). Cristo deu a Pedro a autoridade de ensinar em seu nome porque ele continuaria sempre conosco. Guiada pelo papa, a Igreja é “pilar e baluarte da verdade” (I Tm 3,15). “Quem vos recebe, a mim recebe; quem vos rejeita, a mim rejeita.” (Lc 10,16). Receber os ensinamentos do papa e dos bispos e viver de acordo com eles, não é receber “apenas palavras humanas, mas verdadeiramente a Palavra de Deus” (I Tes 2,13).

3. Não é muito arrogante a Igreja acreditar que fala em nome de Deus e que conhece a verdade?
A Igreja, de fato, acredita que fala em nome de Deus e que anuncia de forma infalível a verdade. Disso só podemos tirar duas conclusões: ou a Igreja é mesmo extremamente arrogante ou... ela está certa!
Nós vivemos em uma cultura pós-moderna que nos ensina a evitarmos escolhas radicais e a rejeitarmos verdades objetivas. Tudo é válido, tudo depende, tudo é relativo.
Mas o ensinamento de Jesus é bem diferente. Ele disse ser a Verdade (cf. Jo 14, 6) e estabeleceu uma Igreja, prometendo que ela nos ensinaria a Verdade (cf. Jo 16,13). Essa autoridade divina é essencial para manter a unidade da fé. Se formos honestos conosco mesmos, reconheceremos que arrogância é achar que nós sabemos mais do que a Igreja em questões de fé e de moral.

4. Como a Igreja pode alegar que não erra? O que dizer sobre a injustiça com Galileu, as Cruzadas, a Inquisição...?
A Igreja é santa e pecadora. [Nota do blog: Essa expressão "Igreja santa e pecadora" é equivocada. Quem peca são os membros da Igreja.  A parte de nós que peca é aquela que ainda precisa se tornar Igreja, que ainda precisa de conversão.] Os seus membros erram e pecam, como o joio que cresce junto com o trigo (cf. Mt 13, 24-30).  Enquanto seus membros erram, a Igreja nunca erra em questões de fé e moral, como o próprio Cristo prometeu: “... as portas do inferno não prevalecerão contra ela.” (Mt 16,18).

5. A infalibilidade não se aplica só a raros pronunciamentos do Papa?
A Igreja exercita seu carisma da infalibilidade de duas formas: extraordinária – quando o Papa faz um pronunciamento ex cátedra (o que só aconteceu duas vezes até hoje: para anunciar os dogmas da Imaculada Conceição e da Assunção de Maria) – e de forma ordinária – quando o Magistério concorda numa questão de fé ou moral. Afirma o Catecismo (2051): “A infalibilidade do Magistério dos pastores se estende a todos os elementos de doutrina, incluindo a moral. Sem esses elementos, as verdades salutares da fé não podem ser guardadas, expostas ou observadas.”

6. A Igreja não deveria ser mais democrática e aberta ao diálogo?
Nos últimos tempos, o termo “hierarquia” virou quase um palavrão. Lembremos que a palavra hierarquia significa “ordem sagrada”, portanto, rejeitá-la é rejeitar a vontade de Deus para a ordem do universo. O oposto da hierarquia não é a igualdade, mas sim a anarquia, ou seja, desordem e caos.
A Igreja não é uma democracia porque a Verdade não se faz por voto popular. As revelações divinas não estão abertas ao diálogo. A Igreja não pode simplesmente mudar as verdades reveladas pelo Espírito Santo: não se trata de teimosia, mas de impossibilidade. Deus não muda por nós; nós é que devemos mudar por Ele. Mas se “diálogo” significa uma discussão aberta com o objetivo de entender o porquê dos ensinamentos da Igreja, isso é legítimo.

7. Como católico, eu tenho que acreditar em tudo o que a Igreja ensina?
Não há nada de errado em fazer questionamentos quando a busca pela verdade é sincera. A fé, entretanto, é um dom que não vem necessariamente de uma vez só. Se uma pessoa busca dar razões à sua fé, mas ainda assim não acredita na Igreja, então seria mais honesto não se considerar mais católico. “Pedi e recebereis; buscai e achareis; batei e a aporta vos será aberta.” (Mt 7,7) – faça todas as suas perguntas e não se considere satisfeito até ter todas as respostas. A Verdade não medo de perguntas, mas... e você? Tem medo da verdade?

8. Moral não é uma questão de consciência?
A Igreja sempre ensinou que nós devemos seguir nossa consciência. Mas ensina também que é preciso formar a consciência a partir da Verdade. A consciência não está livre que querer inventar o que é certo ou errado. Por isso mesmo, a Igreja ensina que a consciência é chamada a descobrir a Verdade e realizar seus julgamentos nessa óptica.
Todos nós já nascemos com uma lei moral básica escrita por Deus em nossos corações, mas o pecado original pode turvar nossos julgamentos. Muitas vezes usamos a consciência para justificar o que queremos fazer e não para discernir o certo do errado. Pense só: se a consciência de cada indivíduo for autônoma para definir o bem e o mal, então a moralidade passa a ser aquilo que eu quero que seja. É preciso que haja padrões objetivos que todos devam seguir. Só encontraremos a paz e a verdadeira felicidade quando assumirmos a vontade de Deus para a nossa vida. Essa é a conversão do coração da qual todos nós precisamos.

9. Nós não somos livres para fazer nossas escolhas? Por que a Igreja não para de impor seus ensinamentos?
Sim, nós somos absolutamente livres, por isso mesmo, a Igreja não impõe, mas propõe seus ensinamentos sobre o verdadeiro amor. Apesar de só Deus poder julgar os corações, nós podemos observar e julgar certos comportamentos.  A Igreja estaria traindo Deus e a humanidade se não se mantivesse firme quanto à vontade de Deus enquanto um padrão objetivo para todos. Condenar o comportamento não significa condenar a pessoa, mas convocá-la a aderir à verdade sobre o amor.

10. Por que está tão difundida a idéia de que o sexo para a Igreja é algo negativo?
Essa “negatividade sexual” não está restrita ao universo religioso, mas é um fenômeno universal. Basta lembrar, por exemplo, de todos os palavrões que existem... todos têm conotação corporal, sexual ou genital.  Some-se a isso, o fato de que tradicionalmente aqueles que seguiam Jesus optavam pelo celibato “por causa do Reino” (Mt 19, 12) e eram considerados mais santos. Isso acabou levando a um mal-entendido generalizado, rebaixando a condição dos que optavam pelo matrimônio. O pensamento era: se a virgindade é tão boa, então o sexo deve ser ruim. Se o celibato leva à santidade, então as relações sexuais nos fazem sujos, impuros.
Ora, se o sexo é um presente de Deus para o homem e a mulher, como expressão de seu amor, fazer dele um dom em ação de graças é uma verdadeira eucaristia. Seu valor inerente é, sem dúvida, frágil, extremamente frágil, mas nunca mau.
Mais uma vez, tracemos um paralelo com o sacramento da Eucaristia. O fato de a Igreja ter toda uma moral sobre quem pode receber ou não a Eucaristia e não quer dizer que seus ensinamentos sejam “negativos”. Para quem quer entender melhor a doutrina da Igreja sobre a sexualidade, nada melhor do que buscar os ensinamentos de João Paulo II que escreveu mais de dois terços de tudo o que a Igreja já pronunciou oficialmente sobre sexo.

11. A Igreja não deveria se meter apenas com religião e deixar pra lá o que acontece “entre quatro paredes”?
Quando a Igreja fala sobre sexo, ela está, sim, se “metendo com religião”. O sexo é um evento religioso. De acordo com João Paulo II, quando falamos do “grande sinal” do sacramento do matrimônio nos referimos a toda a obra da criação e da redenção: “Não sabeis que vossos corpos são membros de Cristo?” (I Cor 6,15). O sexo é sagrado. A alegria do sexo – o orgasmo – representa a alegria de amar como Deus ama, prefigura o gozo do céu, a eterna consumação do casamento entre Cristo e sua Igreja (cf. Jo 15,10-11).
Ao se tornarem “uma só carne”, os esposos estabelecem entre si e com sua família uma igreja doméstica, ou seja, uma Igreja em miniatura.

12. Não é irônico que celibatários ditem regras de moral sexual para os outros? O que eles sabem sobre sexo?
Em primeiro lugar, o Papa e os bispos não ditam a moralidade sexual, eles testemunham a revelação divina, através da autoridade que lhes foi dada pelo próprio Cristo. Em segundo lugar, a mensagem que eles transmitem não é sua, mas de Deus. Deus criou o sexo. Ele sabe por que e para que ele o criou e como ele pode trazer grande alegria quando é respeitado e desgraça quando é abusado.  Em terceiro lugar, quem acha que celibatários não entendem nada sobre o assunto nunca leu os escritos de João Paulo II. É possível aprender mais sobre a natureza, a beleza e o significado do sexo com este “velho celibatário” do que com qualquer outra pessoa: a mente iluminada de um homem que mergulhou fundo na sua própria humanidade e descobriu centelhas do divino.

13. Por que a Igreja é tão obcecada por sexo?
A sexualidade não é somente algo biológico, mas diz respeito à essência da pessoa humana. A mais profunda verdade sobre a sexualidade revela a mais profunda verdade sobre a vida. Por isso o assunto é tão urgente.
O desejo sexual nos foi dado por Deus como um instinto ao amor que leva à vida. Mas quando amor e vida são dissociados, aparece o instinto à luxúria, que leva à morte. As desordens sexuais são como a “caixa de Pandora” que libera todos os maus sociais: a miséria das famílias sem pais, a proliferação de doenças sexualmente transmissíveis, recém-nascidos abandonados em lixeiras, os crescentes índices de violência entre os adolescentes... O comportamento dos casamentos é um reflexo do comportamento sexual. A situação das famílias é um reflexo da situação dos casamentos. As atitudes da sociedade são reflexos das atitudes das famílias. A vida humana, sua dignidade e equilíbrio dependem do ordenamento do amor entre os sexos.
A Igreja pode ser considerada obcecada por sexo se isso significa sua luta em construir a civilização amor através da verdade sobre a nossa sexualidade.


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