domingo, 27 de maio de 2012

A Boa Nova do Sexo e do Casamento 1.2

Retirado da apostila do II Curso para Agentes do setor pré-matrimonial da Pastoral Familiar da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro. Tradução livre e resumida do livro Good News About Sex and Marriage – Answers to Your Honest Questions About Catholic Teaching, de Christopher West, por Tatiana de Melo. Só pode ser utilizado mencionando-se as fontes e sua cópia não pode ser usada para fins lucrativos.


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A SEXUALIDADE HUMANA ‘NO PRINCÍPIO’ 

Deus soprou o seu espírito, o seu amor dentro de nós (cf. Gen 2,7). E o homem, tendo recebido o amor de Deus, é chamado a amá-lo de volta. Também é chamado a partilhar esse amor de Deus com os outros (cf. Mt 22, 37-40). Esse desejo de amar está gravado no mais íntimo do nosso ser e só nos sentimos plenos ao vivê-lo. 


‘NÃO É BOM QUE O HOMEM ESTEJA SÓ’ (Gen 2,18) 

Deus criou todo o universo para o homem. Ao ver os animais, o homem percebeu que era diferente deles. Eles não eram imagem do amor de Deus como o ser humano. Então, Deus coloca o homem num sono profundo, ou melhor traduzindo, num êxtase, num sair de si mesmo. E foi nesse momento de êxtase que Deus tira dele a mulher. 

Como Adão se dá conta que é a ela que deve amar? Ora, lembremos que eles estavam nus. Seus corpos revelavam sua verdade. Na nudez, eles descobriram o que João Paulo II chamou de ‘sentido esponsal do corpo’, ou seja, o corpo tem o poder de expressar amor, precisamente aquele tipo de amor em que a pessoa humana se torna um dom e descobre exatamente nisso o sentido da sua existência. 

Esse é o desejo sexual como foi criado por Deus e como Adão e Eva experimentaram: fazer de si um dom para o outro. Por isso, estavam nus e não se envergonhavam (cf. Gen 2, 25). Não há porque sentir vergonha quando amamos como Deus ama. 


OS EFEITOS DO PECADO ORIGINAL 

Se exatamente a união do homem e da mulher em “uma só carne” é o que deveria ser a revelação da vida e do amor divinos, em que ponto o inimigo de Deus iria começar nos atacando?! 

Deus advertiu o homem para que não comesse do fruto da árvore do Bem e do Mal ou morreria (Gen 2,17). Deus coloca aqui um limite à humanidade: só Deus sabe o que é melhor para nós. Como criaturas, devemos confiar na sua providência e não buscar determinar o que o bem ou o mal para nós. 

Imagine que você acabou de comprar o carro zero Km dos seus sonhos e para no posto de combustíveis para abastecer. A etiqueta no tanque diz: “Somente gasolina comum”. Ora o fabricante conhece o carro por dentro e por fora, mas você decide ignorar a instrução e abastece com óleo diesel. Problema na certa! 

A etiqueta no carro não limita a sua liberdade, mas a orienta para que você faça boas escolhas. Assim são os mandamentos. Eles servem à nossa liberdade. A verdadeira liberdade não é poder fazer o que eu quero. Mas é poder fazer aquilo que é verdadeiramente o melhor para mim, o que me mantém do caminho da verdade sobre a minha própria humanidade. Jesus disse que é a verdade que nos torna livres (cf. Jo 8,32). 

E por que o homem duvidou da palavra de Deus? Ora, por trás do ato de desobediência dos nossos primeiros pais escondia-se a voz sedutora do adversário de Deus que, por inveja, nos fez cair na morte. A serpente planta a dúvida na mente da mulher (cf. Gen 3,1.4-5), insinuando que Deus não queria que fossemos como Ele, que nos aproximássemos da sua vida. Mas... nós já fomos criados à imagem e semelhança de Deus, nós já somos como Ele... Satanás queria nos vender algo que nós já tínhamos (cf. Gen 1,12). O que aconteceu depois? Eles comeram o fruto proibido e imediatamente perceberam que estavam nus (Gen 3,6-7). Deus não mente. Se ele disse que o castigo da desobediência seria a morte, isso, de fato, aconteceu. Quando o espírito soprado por Deus “morreu” nos primeiros pais, morreu com ele a capacidade de amar a imagem de Deus refletida no ser homem e no ser mulher. Sem a vida espiritual, o desejo sexual se inverteu e, ao invés de ser dom e entrega, virou busca egoísta. Um não via mais o corpo do outro como revelação do plano de amor de Deus, mas como um objeto de prazer próprio. Por isso, sentiram medo e vergonha (cf. Gen 3,10). Então, cobriram seus corpos como forma de proteger a própria dignidade do olhar de luxúria do outro. 


A COMPLEMENTARIDADE SE TRANSFORMA EM DISCÓRDIA 

O corpo é a revelação da pessoa, disse João Paulo II (cf. Teologia do Corpo 7, 2). Isso significa que todas as nossas diferenças enquanto homens e mulheres (emocionais, mentais, espirituais e físicas) foram criadas por Deus para que nos completássemos e nos uníssemos. Mas, por causa do pecado, experimentamos essas diferenças como tensão, conflito e divisão. Essas conseqüências do pecado se revelam na história da humanidade. 

A primeira delas é a dominação por parte do homem, subjugando e a mulher. E, não poucas vezes, a mulher manipulando o homem. Cada um do seu jeito comete uma grave distorção do amor sexual autêntico. Ambos tratam o outro como objeto para sua própria gratificação. Como o diesel no carro movido a gasolina, isso é problema na certa! 


A REDENÇÃO DA NOSSA SEXUALIDADE EM CRISTO 

Apesar de ainda termos um eco da intenção original de Deus que persiste em nossos corações, a maioria tragicamente aceita a distorção como norma. Cristo veio restaurar a intenção de amor original de Deus no mundo. Essa é a Boa Nova. Através da progressiva conversão do coração podemos experimentar a redenção da nossa sexualidade. O inferno á a ausência de Deus. A luxúria também. Por isso, é coisa tão séria. 

Em Jo 3, 16-18, Jesus afirma que não veio nos condenar, mas nos salvar. Essas palavras nos inspiram medo ou confiança? Jesus é ou não é o “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1, 29)? Como ele faz isso? Pela entrega total, fiel e fecunda do seu próprio Corpo à sua noiva, a Igreja, na Cruz e por, mais uma vez, como na Criação, soprar o Espírito sobre nós (cf. Jo 20,22). O matrimônio redentor de Cristo fora prefigurado nas bodas de Caná (cf. Jo 2,1-11) e consumado no Calvário. Por isso, quando Maria a ele se dirige, tem como resposta: “Minha hora ainda não chegou.”. Jesus referia-se à sua paixão, pela qual homens e mulheres nascem de novo e são capazes de amar. 


Primeiro Adão e Primeira Eva
Novo Adão e Nova Eva
Adão cai num sono profundo.
Cristo cai no sono profundo da morte.
Eva sai da sua costela.
A Igreja nasce do lado aberto de Jesus de onde jorram sangue e água.
Eva nega Deus, depois da proposta do anjo decaído, Lúcifer.
Maria diz ‘sim’ a Deus ao receber a mensagem do Anjo Gabriel.
A vida divina morre neles.
A vida divina é concebida.
Sua união transmitiu ao mundo o pecado original.
Sua união trouxe ao mundo redenção e vida nova.


“A Mulher” aos pés da Cruz representa cada um de nós, a Noiva. Ao oferecer seu Corpo na Cruz, Cristo, o Esposo, nos faz uma proposta de casamento. Só precisamos dizer ‘sim’ e nos entregarmos também a Ele de corpo e alma. O Batismo é comparado como um “banho nupcial” (cf. CCE – Catecismo da Igreja Católica, 1617). Assim, “casados” com Cristo pelo Batismo, ao recebermos o Corpo de Cristo na Eucaristia, consumamos essa união. E nesse matrimônio místico concebemos uma nova vida em nós: o Espírito Santo. 

Isso é a Boa Nova! Nós colocamos combustível errado no nosso carro, mas em vez de apontar o dedo e nos dizer: “Eu te disse!”, Deus nos dá um novo motor e toda gasolina de que possamos precisar totalmente grátis. Como a noiva, só precisamos aceitar e deixar que ele transforme o nosso coração dia a dia. 


UMA QUESTÃO DE FÉ 

Restaurar a verdade sobre a sexualidade humana exige um retorno radical a Deus. Vivenciar a verdade sobre a nossa sexualidade é, portanto, uma questão fé. Você acredita no Evangelho? Acredita que Cristo veio para nos redimir? Crê verdadeiramente que, com a Graça de Deus, é possível superar sua fraqueza, egoísmo e luxúria para poder amar os outros como Cristo amou sua Igreja? 

Resistir às distorções do desejo sexual e viver de acordo com a Verdade é um desafio até para quem tem uma sólida formação moral. É uma batalha espiritual (cf. Ef 6,12). Sim, os ensinamentos da Igreja são desafiadores, assim como é um desafio acreditar em Cristo, tomar a cruz e segui-lo. Mas a quem é dado esse desafio? A homens e mulheres escravos de suas próprias fraquezas, ou a homens e mulheres que foram libertos pelo poder da cruz? 

Cristo nos aponta para o plano original de Deus para a nossa sexualidade (cf. Mt 19,8). Isso significa que matrimônio só é matrimônio e sexo só é sexo a medida que participarem do amor gratuito, total, fiel e fecundo de Deus. Esse é o parâmetro a partir do qual vamos responder aos questionamentos.


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