terça-feira, 1 de novembro de 2011

Quando eu for Moça (parte 2)

[Continuação da adaptação do livro]

O casamento não vos sorri. Conheceis talvez lares infelizes, famílias destruídas, esposas enganadas, abandonadas, martirizadas; rapazes levianos, devassos, hipócritas, sem religião, sem moral; moças bonitas, piedosas, ingênuas e inocentes, miseravelmente exploradas, em sua boa fé; famílias sem moral, onde se ignoram, desprezam e blasfemam os preceitos religiosos. Esse triste espetáculo vos atemoriza, vos assusta. Ainda assim, porém, o casamento não vos é antipático. Se um rapaz correto se vos apresentasse, dando-vos todas as garantias de vir a ser um bom esposo, estou em que havíeis de proclamar o casamento como o melhor partido a que pode aspirar uma moça. Mas, esse rapaz ideal onde está? O encontrarás? Virá algum dia? Eu não sei. Quer me parecer até que, se tendes medo ao casamento é porque o desejais. Notai bem: É uma simples suposição minha, não lhe ligueis importância. Só vos advirto: Não vos caseis unicamente para fazer a vontade aos outros, nem mesmo aos pais. Poderíeis vir a ser muito infeliz. Quem se casa como quem vai para o convento, há de fazê-lo por vocação, nunca por vontade alheia; o contrário é condenar-se alguém a ser escravo.
Infeliz de vós se vos casardes só por ser agradável a vossos pais. Quando houverdes saboreado as amarguras dessa escravidão, que só acaba com a morte; quando naquele a quem, impelida, vos entregastes, descobrirdes uma criatura essencialmente egoísta; quando uma após outra, se forem dissipando todas as ilusões da mocidade; quando verificardes que aquele castelo tão bem arquitetado não passa de uma miserável vivenda onde o enfado e a solidão são os vossos únicos companheiros, aí, então, minha filha, não sei que vos diga... parece-me até que vos estou vendo debulhada em pranto a suspirar, como se Deus vos houvera abandonado. É para livrar-vos dessa desgraça que torno a repetir-vos: Não decidais da vossa vida unicamente para ser agradável aos demais, por maior acatamento que vos mereçam. Mas prossigamos.
O celibato no mundo, não deixa de ter seus atrativos. Amais a liberdade, a fraternidade e, quiçá, até demais a igualdade. A mulher celibatária no mundo, não tem que separar-se dos seus, pode servir a Deus como bem lhe apraz, pode, á vontade, dedicar-se ao alívio das misérias do próximo; sua alma, cheia de zelo e piedade, pode livremente correr para onde a chama a caridade. Tem entretanto contra si aquela palavra envenenada que faz rir a muitos e serve de argumento as mães, quando querem afastar as filhas daquela vida intermediária entre o matrimônio e o claustro, aquele nome que vos assusta: «solteirona». É incrível o poder dessa palavra desvirtuada. Se, como muitas solteiras o merecem, lhes chamassem devotas, heroicas, anjos tutelares dos pobres e das boas obras, amparo de pais velhos, mães dos orfãozinhos, então não haveria tanto horror a esse estado, antes muitas o haviam de abraçar, para não caírem nas graças dos caçadores de dotes.

Continua...

3 comentários:

  1. Excelente texto. A propósito, o novo layout ficou muito bonito. Fique com Deus!

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  2. Muito obrigada!!! Tava pensando em retomar a publicação deste material, mas quase ninguem lê, então nao sei... rs
    O layout tá dando trabalho auhsuahsuahs
    Mas em breve vai ficar bom e definido!

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