domingo, 1 de abril de 2012

O Significado Ascético da Virgindade II

Continuação da  breve série de postagens - que começou  aqui -  onde será transcrita uma parte do livro "Do Amor Humano" (In Defense of Purity) de Dietrich Von Hildebrand , Tradução de Elgitha Resende de Almeida.

[BMQA1]
[Beneditinas de Maria, Rainha dos Apóstolos]


Conforme já mencionamos, até o prazer inocente e inteiramente legítimo de muitas coisas boas produz, em primeiro lugar, uma certa saída para os instintos elementares do homem; em segundo lugar, uma oportunidade para a indulgência dos resquícios de concupiscência e orgulho na natureza humana decaída e, deste modo, envolve em si mesmo um certo perigo de excesso.
Para se controlar estes instintos(mesmo quando a abertura da passagem não conduza a qualquer excesso) é indispensável uma explícita renúncia ao orgulho e concupiscência, o que, se inspirada pela reta intenção, constitui, pelo menos, um método disciplinador pelo qual nos libertamos de seu jugo. O deleite, por exemplo, com a posse de uma boa casa, ou roupas bonitas, por certo não constitui um mal em si mesmo, mas com facilidade pode envolver, mesmo inconscientemente de todo, a indulgência que São João chama de a luxúria dos olhos - uma mistura de orgulho e sensualidade.
Em todo o caso, a livre escolha de uma vida de pureza e a renúncia a todas as posses proporcionam um método direto pelo qual a luxúria dos olhos pode ser completamente vencida, enquanto o gozo inocente de uma propriedade, mesmo quando não conduza a qualquer excesso deliberado, não constitui, de qualquer forma, semelhante instrumento de purificação.
A liberdade exterior, a habilidade para fazer ou deixar inacabado o que desejamos, (naturalmente só dentro dos limites do que Deus não proibiu) essa independência exterior ,pela qual a juventude anseia tão apaixonadamente, é, sem dúvida, algo genuinamente bom, que é de todo lícito desfrutar, mas, com facilidade, pode demonstrar a indulgência de um desordenado desejo de liberdade e um certo orgulho. Trata-se do gosto da vida, mencionado por São João. Neste caso, também a renúncia voluntária a este bem constitui um meio direto de auto-emancipação, o que a liberdade comum, embora em si mesma inocente, obviamente não o é.
De modo semelhante, esse bem nobre e santo - o casamento - envolve (mesmo como um subproduto de todo involuntário) contato com a esfera da luxúria da carne e, com isso, o inevitável perigo de rendição à sua gratificação inconsciente. Mas, por essa própria razão, recusar alívio à ferroada da carne constitui um método peculiarmente eficaz para mortificá-la, o que a vida matrimonial(mesmo quando o exercício do sexo se restringe à sua mais alta função) não pode dispensar, uma vez que o ato da união conjugal sempre implica, por menos que seja procurado deliberadamente, uma saída para as exigências do sexo.

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Os conselhos evangélicos - pobreza, obediência e castidade³ - prescrevem o caminho exterior para a santidade, em que o heroísmo renuncia até a esses bens cujo uso de forma alguma é pecaminoso, e, na verdade, bom em si mesmo.
Sua finalidade, em primeiro lugar, é ascética. Como continência total, a virgindade consagrada constitui uma união com Deus, á medida que representa, ao mesmo tempo, a completa renúncia à luxúria da carne. A finalidade do ascetismo (aqui, de importância fundamental) é a purificação por meio da renúncia, uma vez que a purificação é um requisito para a perfeita união com Deus. Sua outra finalidade - a fuga radical de todas as ocasiões que envolvam o perigo de um deslize - também podem desempenhar uma parte. Mas, deste ponto de vista ascético, a virgindade em si não constitui um vínculo mais íntimo com Deus; ao contrário, esse vínculo deve ser procurado somente na heróica determinação, nascida de um extraordinário amora Deus, de renunciar a todo e qualquer bem antes de incorrer no risco de separar-se Dele por algum lapso.
Em outras palavras, considerada do ângulo ascético, a virgindade prepara a base da união mais íntima com Deus, mas, deste ponto de vista, a união com Deus(que a virgindade, enquanto castidade consagrada, cria) não é nupcial especificamente. Com efeito, ela pode auxiliar a relação nupcial, porquanto constitui um meio efetivo para realizar essa união com Deus, o que, o casamento com Jesus(no sentido da alegoria há pouco elaborada) envolve. Mas, neste aspecto, se comparada à pobreza e obediência, não representa coisa alguma essencialmente nova. Elas, também, constituem métodos de purificação de importância decisiva. Em outras palavras, o ângulo ascético não pode fornecer resposta à nossa pergunta; não pode representar o fator na virgindade que a torna, e a ela exclusivamente, a base de um casamento singular com Cristo.


³ Aqui, o termo "castidade" deve ser considerado no sentido de continência total, não no sentido mais estrito, há pouco explicado.



4 comentários:

  1. Oi, Barbara, amei conhecer este lindo trabalho de evangelização que você faz pelo seu blog! Ele me inspirou e criar dentro do blog do Setor Pré-matrimonial uma indicação de blogs e sites ligados à castidade. O seu está entre eles, claro, e mais alguns da sua lista. Parabéns e que Deus te abençoe! Reze para conseguirmos levar à frente o projeto na WEBTV. Tatiana

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  2. Boa tarde Bárbara!
    Gosto muito do seu blog, leio sempre e me esforço para aplicar tudo que aprendo aqui no meu dia a dia. Não é fácil, mas com a ajuda da Nossa Mãezinha sei que conseguirei levar uma vida de santidade!
    Queria pedir uma ajuda: na primeira vez que visitei o seu blog vi a foto de Santa Inês e "simpatizei" com ela, mas não a conhecia. Fui procurar sua história e gostei muito. Queria saber mais sobre ela, entretanto, só achei um livro infantil que falasse sobre ela. Você sabe se existe algum livro sobra Santa Inês?
    Fique com Deus e obrigada por ajudar tantas vidas através desse trabalho maravilhoso!
    Mayara :)

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  3. Mayara,

    Bom dia!

    Eu tenho um Manual da Pia União das Filhas de Maria que tem a história da Vida e martírio de Santa Inês. É um livro que não se publica mais, mas posso me disponibilizar a transcrever esta parte pra você, que tal?
    Já viu a sessão ''Padroeiras'' aqui no blog?
    Agradeço muito o seu comentário, são testemunhos como o seu que fortalecem contra o desânimo de postar no blog que bate as vezes.
    Fique com Nosso Senhor e a Virgem, Santa sexta-feira santa!

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  4. Boa noite!

    Adorei a idéia! Não precisa ter pressa não viu? :)
    Já vi a sessão, aliás, entrava todo dia pra ver se você tinha atualizado a sessão hahaha!
    Não desanima não! É que a gente lê o blog e acaba não comentando, pode parecer que você tá abandonada! Prometo que vou comentar sempre pra você não se sentir sozinha ;)
    Fique Com Deus, beijos!

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