Retirado da apostila do II Curso para Agentes do setor pré-matrimonial da Pastoral Familiar da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro. Tradução livre e resumida do livro Good News About Sex and Marriage – Answers to Your Honest Questions About Catholic Teaching, de Christopher West, por Tatiana de Melo. Só pode ser utilizado mencionando-se as fontes e sua cópia não pode ser usada para fins lucrativos.
Dizendo “sim” diretamente a Deus
Sexo e celibato
Eu vi um novo céu e uma nova terra, porque o primeiro céu e a primeira terra desapareceram e o mar já não existia. Vi a Cidade Santa, a Nova Jerusalém, que descia do céu de junto de Deus, adornada como uma esposa ataviada para seu esposo. Ouvi uma grande voz vinda do trono, que dizia: Eis o Tabernáculo de Deus com os homens...
(Apc 21, 1-3b)
Sexo e celibato?! Não é uma contradição ou mesmo um paradoxo? Não é possível entender o mistério cristão sem nos depararmos com a tensão do paradoxo. O Deus único é três pessoas; Jesus é Deus, mas também homem; a Virgem é mãe; dois se tornam uma só carne; precisamos morrer para ter vida; perder para encontrar...
Matrimônio, sexo e a vocação ao celibato estão mais inter-relacionados do que se possa imaginar. Aliás, são inter-dependentes. Quando cada um deles recebe a devida estima e respeito, o equilíbrio delicado entre eles é mantido. Do contrário, quando um dos três (matrimônio, sexo ou celibato) é depreciado, super-valorizado ou desrespeitado, todos os três sofrerão. Não é coincidência, por exemplo, que a “revolução sexual” trouxe um aumento dramático no número de divórcios e um declínio dramático no número de vocações à vida sacerdotal ou religiosa.
1. Se a vocação ao “amor esponsal” é a verdade fundamental da nossa existência e o único modo de nos encontrarmos enquanto seres humanos, por que a Igreja promove o celibato?
À primeira vista parece que o celibato é uma contradição de tudo o que dissemos sobre a dignidade e a importância do sexo e do casamento. Enquanto sacramento, a união matrimonial em uma só carne é apenas um sinal, uma prefiguração do que ainda está por vir: nossa união esponsal com o próprio Deus. É exatamente para isso que o desejo sexual nos leva – ao nosso desejo pelo Céu.
Como vemos no Evangelho, Cristo chama alguns ao celibato “...por amor ao Reino dos céus” (Mt 19,12). O “Reino” é precisamente o casamento celestial. Em resumo, quem escolhe o celibato “pula” o sacramento (sinal) para ir direto à realidade última. Ao dizer o “sim” diretamente a Deus, celibatários vão além na dimensão histórica e declaram ao mundo que o Reino de Deus está aqui (cf, Mt 12, 28). Assim, tanto a vocação matrimonial quanto a celibatária, cada uma ao seu modo, são a realização do amor esponsal.
Nós não podemos fugir da nossa sexualidade. Cada ser homem, pelo fato de ser homem, é chamado a ser esposo e pai; cada mulher, pelo fato de ser mulher, é chamada a ser esposa e mãe, seja através do matrimônio ou do celibato. Os celibatários se tornam o ícone de Cristo noivo, e a noiva é a Igreja. As celibatárias se tornam ícone da Igreja, e seu noivo é Cristo. E ambos geram muitos filhos espirituais.
Não é por acaso que os termos padre, madre (pai/ mãe), irmão, irmã sejam usados tanto ao matrimônio quanto ao celibato. Ambas as vocações são indispensáveis para construir a família de Deus. Uma complementa e revela o significado da outra.
2. A Igreja ainda ensina que o celibato é uma vocação mais nobre que o matrimônio?
Sim, mas é preciso que se façam algumas ressalvas. Algumas distorções aconteceram na interpretação do texto de São Paulo que ensinava que quem se casa faz “bem” e quem se abastem faz “melhor” (cf. I Cor 7, 38). O celibato é mais elevado que o matrimônio, assim como o céu é mais elevado que a terra.
Cada um é chamado à santidade, respondendo ao amor esponsal gravado em nossos corpos. Mas nem todos são chamados da mesma forma (cf. I Cor 7, 7). O importante é descobrirmos nossa vocação.
3. Por que os padres não podem se casar?
Na verdade, os padres do oriente podem se casar e alguns padres de outras denominações (como a anglicana), se forem casados, podem se manter assim e serem ordenados, até mesmo no Ocidente. O celibato não é essencial para o sacerdócio, mas é uma disciplina da Igreja no Ocidente para se conformar mais fielmente ao exemplo dado por Cristo que “se casou com a humanidade”. Assim, o sacerdote não precisa se dividir entre uma esposa e a Esposa, ou seja, a Igreja, podendo dedicar-se inteiramente a ela (cf. I Cor 7, 32-34). Ao invés de olharmos o celibato pensando no que o padre “está perdendo” vamos pensar no que ele está ganhando: o matrimônio celestial.
4. O celibato não é natural. Não me admira que haja tantos escândalos sexuais envolvendo a Igreja. Isso acabaria se fosse permitido que os padres se casassem.
Realmente, o celibato não é natural; é sobrenatural: é um dom, uma graça que uma minoria recebe. Cristo estabeleceu um novo modelo de vida, chamando alguns a renunciarem ao casamento. Para aqueles que ainda estão presos a uma visão equivocada do sexo e da liberdade que Cristo veio trazer, o celibato parece sem sentido. É um estado de vida que não rejeita a sexualidade.
E é o pecado, não o celibato, que causa desordens sexuais. Estas podem acontecer dentro e fora do casamento, infelizmente.
5. Por que as mulheres não podem exercer o sacerdócio?
Aí vem à tona a consciência histórica da opressão feminina. Lembremos, conforme já mencionado, que é justamente a diferença entre os sexos que caracteriza o amor esponsal. Homens e mulheres tem diferentes papéis e a cultura “unissex” que estamos vivendo quer justamente apagar as particularidades que tornam o homem e a mulher seres únicos em sua sexualidade. Um não é melhor que o outro, pois ambos são igualmente dignos e indispensáveis. Os homens deveriam, então, reclamar porque não podem dar à luz? O papel do homem é ser o pai (padre) da família de Deus. Ele repete o gesto e as palavras de Cristo à sua noiva, a Igreja: “Isto é o meu corpo...”. e se as mulheres fossem ordenadas, o simbolismo se perderia e, com ele, o amor esponsal, já que seria uma entrega de “esposa para esposa”.
6. Por que José e Maria não tiveram relações sexuais se eles eram casados?
Deus deu a eles um dom inigualável: viver, ao mesmo tempo, a vocação matrimonial e celibatária. Lembremos que a vocação ao celibato é o matrimônio celeste. A união de José com Maria foi o casamento do céu e com a terra. E qual o fruto desse matrimônio? A Palavra se fez carne. Por isso, a Igreja ensina que o matrimônio é Boa Nova!
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