sábado, 2 de junho de 2012

A Boa Nova do Sexo e do Casamento 7


Retirado da apostila do II Curso para Agentes do setor pré-matrimonial da Pastoral Familiar da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro. Tradução livre e resumida do livro Good News About Sex and Marriage – Answers to Your Honest Questions About Catholic Teaching, de Christopher West, por Tatiana de Melo. Só pode ser utilizado mencionando-se as fontes e sua cópia não pode ser usada para fins lucrativos.



Eu aceito... mas não do jeito que Deus designou
Técnicas reprodutivas


A vida nos ensina, com efeito, que o amor – o amor conjugal – é a pedra angular da vida.
(Amor dentro das Famílias, 799)

Um artigo da revista TIME (08 de novembro de 1999) apresentou o seguinte questionamento: “O sexo ainda será necessário?” e com a ilustração de seres humanos dentro de tubos de ensaio, completava: “A relação entre sexo e procriação que já é tênue, pode desaparecer.”. A abordagem utilitária da vida está levando a sociedade moderna a ver os seres humanos como indesejáveis. No começo da vida, recorre-se ao aborto; no final, à eutanásia. Por outro lado, pode-se produzir uma ser humano quando conveniente. Em ambos os casos, a vida humana não é respeitada por si mesma, pois é tratada como algo que pode ser adquirido ou descartado conforme preferências pessoais.
A infertilidade, de fato, só vem crescendo nos últimos trinta anos e, com ela, toda a indústria das técnicas reprodutivas. É justo o desejo de se ter um filho, mas isso jamais justificará o uso de meios moralmente ilícitos. Sequestrar o bebê de outra pessoa será sempre algo errado, ainda que eu esteja desesperado em ter um filho. Da mesma forma, a Igreja ensina o erro de fabricar crianças usando procedimentos tecnológicos. O fim é bom, mas os meios para atingi-lo são maus. 
A dor e angústia dos casais inférteis não pode ser ignorada. Mas não nos esqueçamos de que há muita coisa por trás da geração de vida humana em laboratório. Valem os questionamentos: 

Nós somos os senhores da vida humana?
Os filhos são um presente de Deus?
Eu tenho o direito de exigir um presente?
Temos o direito de ter filhos a qualquer custo?
Nós decidimos o que é o bem e o mal?

1. A Igreja se diz tão a favor da vida e da família. Então por que condenar tecnologias que vão trazer mais vidas ao mundo?
A contracepção é sexo sem bebê; as técnicas reprodutivas são bebê sem sexo. A Igreja não poderia se calar diante dessas imoralidades. A relação entre o sexo e a vida nunca pode ser dissociada.
O ensinamento moral básico da Igreja sobre esta questão é: se uma intervenção médica ajuda o enlace conjugal a atingir seu objetivo natural, isto é aceitável e até louvável. Mas se estas técnicas substituem a relação sexual, então, constituem um desvio grave da intenção original do Criador. Essa separação provoca males adjuntos e, mesmo que esses pudessem ser evitados, ainda assim, iriam contra a dignidade da criança, do casal e da humanidade em geral. 
Males adjuntos - Cristo ensinou que uma árvore se conhece pelos frutos (cf. Mt 7, 17-20). A separação entre sexo e concepção acaba levando, direta ou indiretamente, ao seguinte: masturbação para obtenção de esperma; descarte do excesso de vida humana produzida em laboratório (abortos disfarçados pelo eufemismo de “redução seletiva”); abusos éticos na manipulação de uma multidão de embriões congelados; e inseminação em mulheres solteiras, gerando todas as conseqüências negativas já mencionadas anteriormente das crianças que crescem sem pai.
A dignidade da criança – Existem muitas formas para que uma criança seja concebida: pelo amor conjugal, fornicação, estupro, adultério, incesto, técnicas de fertilização... mas apenas uma delas salvaguarda a dignidade  humana à semelhança de Deus: o amor. O amor é nossa origem, nossa vocação e nossa meta. Só o amor matrimonial garante à criança a dignidade de ser concebida através de um ato de amor que se assemelha à comunhão divina da Trindade. E desde o momento da concepção, a criança merece esse respeito. Querer uma criança não como fruto do amor conjugal, mas como resultado de um procedimento tecnológico é tratá-la como um produto a ser obtido e não como uma pessoa a ser amada. 
E como todo produto, ele precisa ser submetido a um controle de qualidade. Daí a tentação por parte dos pais e dos médicos de excluir os “defeitos de fabricação”. Pensemos mais uma vez no direito da criança de ser desejada e amada com um amor incondicional por aquilo que ela é independentemente dos “defeitos” que tenha.
A dignidade dos esposos -  A geração tecnológica da vida não é matrimonial. A criança não é fruto do amor de seus pais feitos “uma só carne,”. Ela é resultado da intervenção de terceiros. Os esposos nunca podem delegar a outros o privilégio da vida e do amor sexual.
Ser inseminada artificialmente por um médico com uma seringa não é, nem de longe, algo que se possa dizer digno para uma mulher. A criança eventualmente gerada pode ser um “milagre da ciência”, mas não será um milagre de amor. O ato sexual não é apenas uma transmissão biológica dos gametas, mas é uma realidade profundamente pessoal, sacramental, física e espiritual que não pode ser desumanizada. 
A humanidade em geral – Deus criou a união sexual como um símbolo da sua vida e do seu amor. Dissociar a  geração da vida da união sexual também é simbólico. Simboliza a nossa rejeição á nossa união com Deus. Lembremos que diz o Credo que só Deus é “O Senhor que dá a vida”. Ele é o Senhor e nós somos seus servos. As técnicas reprodutivas, porém, colocam o ser humano como operador e não cooperador da vida. Estamos negando nosso próprio status de criaturas e incorremos mais uma vez no erro de querermos ser “como Deus” (cf. Gen 3, 5).

2. Então as crianças geradas a partir de técnicas reprodutivas não são filhos de Deus?
Não há uma só pessoa no planeta que não exista pela vontade de Deus. Da mesma forma que os filhos concebidos depois de ato de estupro ou incesto, todo ser humano é filho de Deus. O que o ensino anterior nos mostra é que as crianças que não são fruto do amor conjugal de seus pais não foram concebidas com um ato que espelha o amor de Deus, o que fere a essência da sua dignidade humana.
Não basta apenas amar a criança em um nível espiritual. Nós somos corpo, somos matéria e é através do nosso corpo que expressamos o amor. Por mais “ginástica mental” que se faça é impossível transferir o amor espiritual para o procedimento de um médico ou cientista.

3. Nós também brincamos de Deus toda vez que fazemos uma cirurgia ou tomamos um remédio. Qual é a diferença? 
Bem-estar, saúde e vida estão inscritos em nosso ser como parte do plano de Deus. Dor, doença e morte são resultados da corrupção trazida pelo pecado original. Deus permite tais coisas mas não as deseja para nós. Desde que lícitos, todos os meios empregados de acordo com os planos divinos são válidos para restaurar a saúde e salvar vidas. Nestes casos, não estamos “brincando de Deus”, mas agindo como aquilo que somos: administradores da natureza, usando-a para o bem. Mas, a partir do momento em que queremos tomar o lugar de Deus e “forçar” a concepção, aí sim passamos do limite.
Deus nos mandou dominar as criaturas inferiores (cf. Gen 1, 28). Não há nada de errado, portanto, na manipulação genética com animais que são seres irracionais diferentes de nós, que somos chamados ao amor e à comunhão divina.

4. A infertilidade não é uma doença? Isso não significa que deve, portanto, ser tratada?
Para nos expressarmos melhor, a infertilidade é uma incapacidade, e é importante tentar curá-la, se usamos nossa inteligência para ajudar que a relação conjugal gere uma vida. Isso sim é a cura para a infertilidade. Substituir a relação sexual por técnicas de laboratório é um engodo, pois o problema da infertilidade não é resolvido.
O mandamento divino é para o nosso próprio bem. É um mistério porque Deus gera filhos a partir de estupros e adultérios e permite a infertilidade a casais amorosos (cf. Is 55, 9). Em ambos os casos, vemos oportunidades de santificação, momentos oportunos para que as pessoas se voltem para Deus. Sigamos o exemplo de Cristo que se sentiu abandonado na Cruz (cf. Mc 15, 34), mas confiou e sua confiança não foi em vão. 

5. Por que a adoção é permitida se aquela criança também não é  fruto do amor dos seus pais?
A adoção não é só aceitável como também louvável. Prover uma família amorosa a uma criança que já existe é totalmente diferente de manipular para que crianças existam. Adoção é um ato de amor, não de ciência.

6. Muitas mulheres solteiras têm o desejo sincero de serem mães. Por que não realizar este desejo?
Vejam bem a diferença entre uma mãe solteira que foi abandonada pelo pai de seu filho e uma mulher que deliberadamente recusa a figura paterna. Sabemos que a falta do pai pode causar danos irreparáveis. Diante desta questão parece mais um ato de amor ou estaria ele disfarçado de egoísmo e realização pessoal a qualquer custo? Nenhum filho que cresce sem pai passa impune por esta falta. Olhe à sua volta? Quantos exemplos você poderia dar disso?

7. Que a Igreja seja contra a “produção independente” tudo bem, mas e quanto aos casais que se amam? Eles não têm o direito de terem seus filhos?
Primeiramente é preciso ter cuidado para nos deixar nosso sentimento de solidariedade turvar o bom senso e a razão, especialmente quando se trata da vida de um outro ser humano. A Igreja sempre defenderá os direitos legítimos das pessoas. Os esposos, entretanto, não têm direito aos filhos. Eles têm o direito de manterem relações sexuais e esperar que Deus cumpra seu plano de amor em suas vidas. Os filhos são um presente e presentes não podem ser exigidos. A Igreja defende, sim, o direito que a criança têm de ser o fruto do ato do amor conjugal entre seus pais.

8. Então, o que o casal que não consegue ter filhos deve fazer? Sofrer?
Com o avanço da medicina, muito pode ser feito. Mas se, mesmo assim, não for possível se chegar a uma cura, os casais estéreis não devem se esquecer, como observou João Paulo II, que “...mesmo quando a procriação não é possível, nem por isso a vida conjugal perde o seu valor. A esterilidade física, de fato, pode ser para os esposos ocasião de outros serviços importantes à vida da pessoa humana, como por exemplo a adoção, as várias formas de obras educativas, a ajuda a outras famílias, às crianças pobres ou deficientes.” (Familiaris Consortio, 14). O sofrimento espiritual pode ser altamente fértil. Depende do que vocês fazer com a dor. Basta seguir o exemplo de Cristo.

9. Meu médico diz que precisa que eu faça o exame da contagem de espermatozóides. Posso me masturbar nesse caso?
Não. Lembre-se de que os fins não justificam os meios. É possível coletar esperma através de punção ou usando um recurso que é como um preservativo perfurado, usado durante o ato conjugal que retém um pouco do esperma para ser usado na análise.

10. Nós temos uma filha linda que foi concebida por inseminação artificial. Ela é a luz da nossa vida e nós acreditamos do fundo do coração que ela é um presente de Deus. Recusamo-nos a admitir que fizemos algo de errado...
Existe uma diferença bem grande entre admitir que o que vocês fizeram foi errado e dizer que a sua filha foi um “erro”... Deus sempre nos abençoa, mesmo quando não agimos de acordo com seus planos. Apesar da bênção que sua filha representa em suas vidas, ela foi concebida de maneira injusta.
Deus é misericordioso. Não deixe o orgulho dominar seu coração. Procurem um sacerdote, conversem, recebam o Sacramento da Reconciliação e com ele o perdão de Deus. 

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