quinta-feira, 31 de maio de 2012

Donzela Cristã X - A fidelidade aos pais

[Retirado do livro Donzela Cristã, de Padre Matias de Bremsheid, que pode ser encontrado para download no blog Alexandria Católica





























Conforme a vontade de Deus deve antes de tudo dedicar aos teus pais amor e fidelidade.
São Jerônimo refere-se um belo exemplo desta fidelidade na vida da Santa Eustáquia,
filha de Santa Paula, notável dama romana. Segundo conta, ela portou-se em tudo, como
boa filha, ternamente amorosa para com a sua mãe. Amava a mãe de todo o coração e se
empenhava por imitá-la em todo o bem.
Assinalavam-se, constantemente, por uma voluntária e pontual obediência, e cumprialhe
prazerosa os menores desejos. Sempre ficava satisfeita, quando podia proporcionarlhe
alguma alegria. Seu maior gosto era permanecer em sua presença e assisti-la, com
incansável dedicação e ilimitada diligência, tanto nos dias de saúde, como nos de
doença, até o derradeiro momento de sua existência. Tais foram às disposições e o
procedimento de uma filha verdadeiramente boa, que tu, donzela cristã, deverás
ternamente imitar.
Sim, cumpre com absoluta fidelidade, os teus deveres para com teus pais que, segundo a
determinação de Deus são os teus maiores benfeitores. Lembra-te, por um instante que
tudo deve agradecer a teus pais. Vê quanto por ti se afadigou teu pai, no decorrer de
muitos anos. Todos os dias, pela manhã, erguia-se do leito e, depois de curta oração,
encaminhava-se para os duros trabalhos de sua profissão. Quantas pesadas gotas de suor
derramou para satisfazer às suas obrigações! Quantas vezes sentia que as forças
ameaçavam abandoná-lo, e as mãos denunciavam cansaço! Sem embargo, o pensamento
em ti, o amor por ti, estimulava-o sempre a continuar o trabalho, não obstante toda a
fadiga.
Enumera, se puderes, os penosos passos que deu por ti, as muitas alegrias e prazeres de
que se privou para que nada te faltasse, os gastos incalculáveis que fez para que tivesses
o necessário e te instruísses convenientemente. Contempla os duros calos de suas mãos,
os sulcos de sua fronte, a gravidade que lhe transparece na face e em todo o ser – tudo
isso te fará lembrar uma infinidade de incômodos e cuidados que teu pai suportou por tua causa. 
Interpela, depois tua mãe, sobre o que tem feito. Responder-te-á: Minha filha,
não te posso narrar, é impossível. Horas e dias consecutivos trouxe-te em meus braços,
acalentei-te ao meu coração e velei-te no berço; cumulei-te de carícias, antes que tu as
pudesses compreender. Tu me fatigaste, muitas vezes; longas horas me roubaste ao
repouso noturno pelo qual suspirava e do sono de que eu tanto necessitava. Sustentei a
tua fraca vida, alimentei-te e tanta coisa suportei, até que pudesses falar, andar e de
algum modo agir por ti mesma. E, que de cuidados eu não sentia por tua vida, quando
ela de qualquer modo corria perigo! Como eu oscilava entre a angústia e a esperança,
esquecendo o comer e o beber, quando alguma doença te retinha no pequeno leito.
Fui eu a primeira que te iniciei no conhecimento de Deus, a primeira que acendi em teu
coração a chama do seu divino amor, a primeira que juntei tuas mãozinhas e te ensinei a
rezar: “Pai nosso que estais no céu”. Inúmeras vezes, ao divino Salvador e a sua Mãe
Santíssima, com fervorosas orações e lágrimas, pedi o teu verdadeiro bem no tempo e
na eternidade.

Estas e muitas outras coisas poderá narrar-te a tua boa mãe, se a interrogares sobre
quanto fez por ti.
Os alemães têm um belo provérbio que diz com razão:
“A mãe fiel será diariamente nova”
- Mutter treu vird taglich neu”.
Não seria, portanto, donzela cristã, sobretudo ignóbil, não seria uma negra injustiça, se
não fosses boa e fiel para com teus pais, a quem tanto tens que agradecer, e não
cumprisses conscienciosamente os teus deveres? Se alguém visita um enfermo que,
enfraquecido e desditoso jaz no seu leito de dores, e leva-lhe uma pequena dádiva, o
doente comovido agradece com lágrimas nos olhos essa prova de carinho e amizade.
Mais ainda: se alguém nos faz uma pequena fineza um favor insignificante,
imediatamente proferimos o nosso “muito obrigado”, ou “Deus lhe pague”.
Tem-se, geralmente por falta de atenção e de nobreza de sentimento, o não reconhecer e
agradecer tais favores e gentilezas. No entanto, são de todo insignificantes esses
pequenos favores ao lado dos inumeráveis benefícios com que os pais cumularam aos
filhos; mesquinha gota de água, em confronto com o mar incomensurável.
Cumpre, com toda a fidelidade e consciência os teus deveres para com teus pais, porque
são eles aqui na terra os primeiros representantes de Deus junto de ti. Nas suas ações
externas, por via de regra, Deus não age imediatamente, mas com intervenção das
causas segundas. Ao trabalho do diligente, lavrador e do perito jardineiro, alia a sua
atividade criadora e faz as sementes germinarem, nos campos cheios de esperança e
orna os jardins com magníficas flores. Foi assim também que, por meio de teus pais, te
deu a vida; por meio de teus pais te alimenta e veste; por meio de teus pais te protege e
guarda de muitos perigos; por meio de teus pais quer educar-te para a vida futura,
conduzir-te para o bem e finalmente para o céu. Os pais ocupam junto de ti o lugar de
Deus; são para ti os primeiros dons de Majestade de Deus.

Deus tomou por assim dizer, uma pedra cintilante da sua coroa divina e a engastou na
coroa da autoridade dos teus pais. Este pensamento a honrá-los, em alto grau, 
e a cumprir, com perfeição, os teus deveres para com eles? Quando o Faraó do Egito
nomeou seu representante, na qualidade de vice-rei, o patriarca José pôs-lhe um anel no
dedo, vestiu-o com um manto real e lançou-lhe ao pescoço um colar de ouro. Fê-lo
depois percorrer toda a cidade no seu segundo coche, a que precedia um arauto para
anunciar a todos que se ajoelhassem diante dele e soubessem que esse era o
superintendente de todo o país do Egito.
Ora, os reis e príncipes da terra querem que seus representantes sejam honrados, que se
lhes tribute uma parte da veneração e do respeito devidos ao rei. Porventura, donzela
cristã, o Rei dos reis, perante quem o mais poderoso monarca na terra não passa afinal
de um mesquinho grão de poeira, não exigirá que os homens respeitem seus
representantes – os pais, - e lhes manifestem grande fidelidade?
Cumpre, fiel e conscienciosamente, os teus deveres para com teus pais; isto atrairá sobre
ti as bênçãos de Deus para o teu futuro e graças abundantes para uma vida cristã
virtuosa. Assegura-te o próprio Deus eternamente veraz e que sustenta o que prometeu.
Quero citar alguns dos mais belos trechos da Sagrada Escritura, que diz respeito a este
assunto. Lê-os com a atenção e devagar. Toma-os na devida consideração e propõe, por
tua atenta observância, merecer as bênçãos divinas:
“Honra teu pai e tua mãe, para que tudo te corra bem e tenhas uma vida longa sobre a
terra”. Assim reza o quarto mandamento da Lei de Deus, que tu aprendestes quando
criança. “Como quem acumula tesouros, assim é aquele que honra sua mãe” (Ecli., 3,5).
“Filho, ampara a velhice de teu pai e não o entristeças durante a sua vida. Se a
inteligência lhe for faltando, suporta-o e não o desprezes por teres mais vigor do que
ele; porquanto a caridade exercida com teu pai não ficará no esquecimento. Serás
recompensado por teres suportado os defeitos de tua mãe... No dia da tribulação Deus se
lembrará de ti, e os teus pecados se desfarão com o gelo num dia sereno”. (Ibid., 14,17).
Assim, como Deus prometeu as suas bênçãos aos bons filhos que fielmente cumprem os
seus deveres para com os pais, assim também, ameaça com sua maldição àqueles que
transgridem muitas vezes e de modo grave esses deveres. Severas, com efeito, são as
suas palavras. Lê, também, estas e sirvam-te de aviso salutar, a fim de
conscienciosamente, pores em prática, a resolução de ser, em todo o tempo, boa filha.
“Maldito o que não honra seu pai e sua mãe; e todo o povo dirá: Assim seja” (Deut.,
27,16). “O olho do que escarnece de seu pai e do que despreza a mãe que o deu à luz,
arranquem-no os corvos... e comam-no os filhos da água” (Prov., 30,17). “Como é
infame aquele que desampara seu pai! E como é amaldiçoado de Deus o que exaspera
sua mãe!” (Ecli., 3,18).

Quantas vezes não se encontram na história o cumprimento destas ameaçadoras
palavras de Deus! Lembra-te de Absalão, que se sublevou contra o pai; ficou suspenso
pelos longos cabelos ao galho de uma árvore e ali foi atravessado por três lanças.
Lembra-te de Cam que, com maliciosa satisfação, viu o pai em estado de embriaguez e
foi referir o caso aos irmãos com certo desprezo. Em castigo, tornou-se escravo dos seus
irmãos com certo desprezo. Em castigo, tornou-se escravo dos seus irmãos, e toda a sua
descendência deverá sofrer a pena daquele delito. Ainda hoje, cada cidade, cada aldeia, 
nos oferece exemplos de filhos que, muitas vezes menosprezaram gravemente os seus
deveres para com os pais, e foram depois, a cada passo perseguidos pela maldição de
Deus, de modo que, nas empresas comuns não logram nenhum êxito, nenhuma benção,
e são de ordinário molestados e maltratados de igual maneira pelos próprios filhos,
exatamente como antes haviam feito a seus pais.
Em lugar de maldição, donzela cristã, procura merecer as bênçãos abundantes de teus
pais. Portanto, presta sempre a teus pais, que ocupam junto de ti o lugar de Deus, temor
reverencial; não te esqueças às belas palavras que São Cirilo Alexandrino dirige a cada
filho: “Honra e venera muito teu pai e tua mãe, porquanto os pais trazem em si de certo
modo a imagem de Deus”.
Tomás Moro, homem de brilhantes dons de espírito e coração, foi nomeado
arquichanceler da Inglaterra, portanto um dos primeiros e mais notáveis dignitários de
todo o Reino. Todavia, com ser homem de estado, nunca deixou sua residência por
muito tempo, sem se despedir do velho pai e sem lhe pedir, de joelhos, a benção. Se
participava duma reunião dos Grandes da Inglaterra, onde o pai estivesse presente, ele
se dirigia logo ao pai, beijava-o com todo o respeito, oferecia-lhe o primeiro lugar, e só
depois de recusado este, ocupava Tomás o lugar de honra que requeria a sua posição de
arquichanceler.

Honra também teus pais em qualquer ocorrência. Seja onde e quando for, refere-te a
eles com toda a atenção e respeito; guarda-te de te alegrar com suas faltas eventuais e
suas imperfeições e de ocultá-las a outrem. Jamais te envergonhes deles, ainda que
sejam pobres ou defeituosos ou pouco educados. Como é triste e intolerável aos olhos
de Deus, o filho desprezar a seus pais, dirigir-lhes palavras ásperas e encará-los de rosto
sombrio! Diz com grande severidade São Jerônimo: “Merece ficar cego, aquele que
encara com mau humor o semblante de seus pais e ofende com olhos arrogantes, o amor
filial!”.
E verdadeiras são as belas palavras de São Pedro Crisólogo: “Tirai os raios ao sol e não
mais alumiará; separai o regato da fonte, e não mais correrá; despojai a árvore de seus
ramos, e secará; arrancai os membros, ao corpo, e morrerá; tirai ao filho a reverência
aos pais e já não será nem filho, nem filha”. Se, pelo contrário, estimares e honrares teus
pais, a ti mesma te honrará; o respeito que demonstra a teus pais, é a maior honra para
tua pessoa e granjeia-te as suas bênçãos.
“Honra teu pai por ações, por palavras e com toda a paciência, para que venha sobre ti a
sua bênção e esta permaneça contigo até o fim”. (Ecli.,3,9-10).
Sê, além disso, pontual e obedece com alegria a teus pais. Receberam de Deus o sério
encargo de te educar como boa cidadã e diligente cristã, pra que logres o destino eterno.
A esta grave incumbência não poderão satisfazer sem a espontânea obediência de tua
parte. Com efeito: assim como sem a luz do sol não há dia claro, muito menos ainda
pode existir verdadeira educação sem a obediência. Eis porque tens o dever rigoroso,
perante Deus. De prestar de bom grado obediência a teus pais.

Não os deixes nunca chamar-te ou interrogar-te sem lhes responder alegremente;
encaminha-te depressa e com prazer para o trabalho que eles te destinarem. Não te
atrevas jamais a tomar atitudes arrogantes quando, com razão, eles te negarem visitar
um clube. Nunca exijas deles coisa algumas contra a sua vontade, por ex., dar um
passeio, ou isto ou aquilo; não procures depois extorquir ou captar a sua licença e
permissão.
Não consinta que te chegue aos lábios uma palavra de descontentamento pela tua
desobediência, nem jamais se veja, em ti, um sinal de enfado ou mau humor. Executa
com prazer sempre que puderes, os desejos que te não manifestam, mas que podes
adivinhar. Assim, proporcionaras a teus pais grande alegria e edifica a teus irmãos,
profundamente.
Por último, jovem cristã, ama teus pais, de todo coração. O grande, o heróico amor que
te votam reclama o teu amor recíproco em alto grau: os inumeráveis benefícios de que
te cumularam, desde os mais verdes anos de tua vida, impõe-te a doce obrigação de lhos
retribuir com grato amor, o qual há de ser verdadeiro e puro, e não aparente ou
hipócrita, e deve consistir numa afeição cordial, que te induza a tomar parte, de modo
mais íntimo, em tudo quanto se relaciona com eles: alegrias e tristezas, saúde e doenças,
felicidade e infelicidade.

O teu amor a teus pais deve ser constante e permanente: não só na tua mocidade, mas
ainda em toda a tua vida subseqüente; não só enquanto eles têm saúde e aptidão para o
trabalho, senão também, quando estiverem doentes e quebrantados e exigirem muitos
cuidados, cumpre lhes sejas dedicada com amor íntimo e fiel. Poupa-os sempre da
menor aflição; proporciona-lhes com o teu procedimento, constante alegria. Não deixes
tampouco de rezar por eles todos os dias, principalmente, quando assistirem ao santo
Sacrifício da Missa ou quando receberes a sagrada Comunhão, o que fazes com bastante
freqüência, como é de se esperar.
Teu amor para com teus pais deve, enfim, ser ativo e pronto. "O amor é paciente", diz o
Apóstolo São Paulo aos gentios. Suporta com grande paciência as imperfeições e
pobreza de teus pais. Se possuem defeitos realmente notáveis, que te fazem recear pela
sua salvação, então reza por eles com maior solicitude e procura, de maneira prudente e
afável, influir cristãmente sobre eles; entretanto, guarda de te queixares deles na
presença de outrem e de aludir sem necessidade, a seus defeitos; antes sofre tranqüila e
resignada, o que apesar de tua boa vontade, não podes modificar.
Se teus pais forem velhos e doentes, assiste-os com terno respeito, atenção e amor.
Terás por grande favor e graça do céu o proporcionar-te Deus a ocasião de cuidares de
teus pais velhos alquebrados. Em caso de necessidade deves preferir impor-te uma
restrição ou privação, e até mesmo abster-te do próprio sustento, a permitir que eles de
qualquer modo vivam na indigência.
Há muitos filhos e muitas filhas que não têm verdadeiro amor aos pais. Pode chamar-se
amor, o tratar os pais com dureza e desprezo, não lhes dirigir uma palavra de afeto, falar
com eles de maneira áspera e mortificante?

Pode chamar-se amor, o de filhos que por seu comportamento leviano, sua indiferença
religiosa, sua vida dissoluta, afligem profundamente os pais e lhes preparam opróbrio e
vergonha? Pode, finalmente, chamar-se amor, a atitude de filhos que, por ocasião de
uma doença mais prolongada dos pais, ou nos achaques próprios da velhice, se mostram 
insensíveis ou pouco cuidadosos; e cada trabalho, cada sacrifício, cada despesa, lhes
parece demasiado, manifestando assim falta de amizade e de paciência?
Chegará tempo, talvez mais depressa do que supões, em que a morte te roube os pais.
Então, o coração paterno que agora pulsa com tanto calor por ti, se quebrará no doloroso
combate da morte; os olhos que tantas vezes agora se fixam com sincero amor e alegria
se hão de cerrar para nunca mais baixar sobre ti; as mãos que tão freqüentemente
acariciam, tu as verás tolhidas, frias e hirtas.
Que de exprobrações farás, então, a ti mesma, ao pé do leito funéreo de tua terna mãe,
ou do teu bom pai, quando sentires os clamores da consciência assim bradando: eu
causei à minha mãe, a meu pai, tantas aflições e dissabores, ultrajei-os tantas vezes e
gravemente; agora estão no tribunal de Deus, para serem os meus acusadores! Por outro
lado, que doce consolação te será naquele tão grave momento poderes dizer com toda a
verdade: sempre me esforcei em proporcionar a meus pais alegrias e prazeres; fui a todo
o tempo filha sincera e fiel, cumpri as suas ordens e executei os seus desejos com a
maior prontidão e boa vontade! Reflete, donzela cristã, sobre esta consolação que te
poderá propiciar.

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