sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Donzela Cristã V - A Penitência



Foi uma palavra da onipotência divina a que o Divino Salvador pronunciou: “Àqueles a
quem perdoardes os pecados, ser-lhe-ão perdoados e àqueles a quem retiverdes, ser-lheão
retidos”. (Jô. 20,23). Contra esta palavra, pela qual Jesus Cristo instituiu o
Sacramento da Penitência, levantou-se uma oposição multissecular; todas as paixões se
insurgiram contra ela. No entanto, para o Divino Salvador e Sua palavra nenhum
obstáculo existe. É assim que, a despeito do mais encarniçado ataque dos inimigos de
Cristo, em todo o mundo, aí permanece o Instituto da Penitência. Ainda hoje, milhares
de cristãos confessam humildemente seus pecados no Tribunal da Penitência e se
fortalecem por meio deste sacramento, contra a tentação e más inclinações. Também tu,
donzela cristã, faze por que nada te embarace de freqüentar o tribunal da penitência.
Confessa-te muitas vezes, pois, isto te será sumamente salutar.


1º- A confissão freqüente levar-te-á ao conhecimento de ti mesma.
Sem o conhecimento de si próprio, não há regeneração, não há combate às más
inclinações. Eis porque é muito triste que tantíssimas almas não se conheçam a si
mesmas. Conhecem os personagens e os acontecimentos da história dos povos; sabem
descrever as montanhas e os rios dos países estrangeiros; todavia, o seu próprio interior
é para elas uma região estranha, da qual não possuem nenhum conhecimento. Se alguém
lhes chama a atenção para alguma falta, logo se mostram admiradas, agastadas de que se faça delas tal conceito; enquanto outras, que muitas vezes se deixaram arrastar para essa
falta, dela não têm absolutamente nenhuma idéia ou lembrança.
A confissão freqüente, portanto, facilita-nos sobremodo, o tão importante conhecimento
de nós mesmos. Se cada vez, por ocasião da confissão freqüente, diriges a teu coração
um olhar sério, não verás acaso, as profundezas e não se tornarão os olhos de teu
espírito penetrantes, de tal modo, que muitas coisas, as quais à primeira vista
permaneciam ocultas, pouco a pouco se manifestam no seu verdadeiro aspecto?
Pelo assíduo e sério exame de consciência te habilitarás a conhecer com exatidão os teus
pecados e tuas más inclinações, suas causas e conseqüências, a penetrá-las, por assim
dizer, com os olhos de teu espírito. E quanto menos for o número de pecados graves que
tiveres de confessar, tanto mais, então olharás para os pequenos pecados veniais, para as
menores fraquezas e imperfeições. Assim como à luz brilhante do sol, claramente se vê
o pequeno grão de poeira, do mesmo modo reconhecerás distintamente cada uma das
pequenas faltas no teu interior. Eis porque a freqüente recepção do Sacramento da
Penitência, muito contribuirá para te aperfeiçoar e aumentar o conhecimento de ti
mesma, o que será uma grande conquista.


2º- A confissão freqüente ajudar-te-á a combater resolutamente os pecados e s
tentações, e as vencê-las com segurança.
Cada confissão nova é também novo ataque e vigoroso combate contra a força dos
pecados e das tentações em teu coração. Cada vez que te confessas, cumpre que te
arrependas intimamente de teus pecados e erros, por motivos sobrenaturais. Deste
modo, não fomentarás sempre mais em ti o ódio e a aversão ao pecado? Tomarás, além
disso, séria e firme resolução de fugir do pecado com todas as tuas forças e evitar a
ocasião próxima de pecar. E em teu íntimo não se despertará, a tal propósito, uma
grande vigilância e salutar precaução?
Além disso, não deves esquecer que, pelo Sacramento da Penitência, cada vez te serão
concedidas graças atuais especiais para combateres o pecado e levares uma vida boa e
cristã. Os mestres espirituais vêem esta graça sacramental na exposição do Evangelho,
o qual pondera que o filho pródigo, depois que tornou à casa paterna cheio de
arrependimento, recebeu “sapatos para seus pés”. De modo análogo, no Sacramento da
Penitência, Deus nos concede, uns como sapatos para os pés, fortalecendo-nos com
graças atuais, para percorrermos o caminho dos seus mandamentos, preservarmo-nos de
novas faltas e prosseguirmos na prática da virtude.
Salientarei, por último, que muitos perigos e tentações somente pela sincera confissão
(declaração dos pecados) que se faz no Tribunal da Penitência, perdem grande parte de
sua agudeza e de sua força. Existem alguns animais, pequenos e de aspecto pouco
agradável, que temem a luz e por isto preferem conservar-se num esconderijo tenebroso,
como por ex., debaixo de uma tábua estendida no chão ou sob alguma pedra. Levanta-se
a tábua, ou a pedra, e projetem-se de súbito os raios brilhantes do sol sobre aqueles
repulsivos animais, e os verás fugirem apressadamente, procurando esconder-se o mais
depressa possível.
O mesmo acontece, pouco mais ou menos, com relação a muitos maus pensamentos,
feias inclinações e tentações, que também gostam do segredo, do mistério e das trevas Desde que sejam revelados sem temor ao guia da consciência, no Tribunal da
Penitência, perderão, só por isso, grande parte de sua força e poderão ser subjugados
mais facilmente.


3º- A confissão freqüente conduzir-te-á, enfim, ao exercício de importantes virtudes.
É uma grande virtude a humildade, que os mestres da alma dizem ser o fundamento de
toda a vida cristã. Pratica-se esta virtude de maneira toda particular e mais do que
qualquer outra, no Sacramento da Penitência, quando o cristão, acusando-se a si próprio
perante o ministro de Deus, reconhece sinceramente a sua culpabilidade e assim aplica
uma bofetada à face do próprio orgulho. O desprezo de si mesmo é sem dúvida uma
importante virtude, para a qual o Divino Salvador nos estimula com estas palavras: “Se
alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-me”. (Mat.
16,24).
Já, tens de certo experimentado muitas vezes que, para uma sincera e humilde confissão,
deves desprezar-te. Por isso que a confissão te conduz a subjugar varonilmente, ela te
levará também pouco a pouco à firmeza de caráter. O domínio de si próprio é, sem
dúvida, uma particularidade especial do homem de caráter inflexível. Não menos
importante é a virtude da obediência. Sem a obediência às leis naturais, impostas por
Deus, tudo no mundo externo entraria em desordem. Desapareceria a vida e toda a sua
magnificência. As relações entre os seres criados seriam selvagens.
O mesmo sucederia no mundo moral e social. Sem a obediência, uma vida ordenada e
contente, seria de todo impossível. Mas, não te exercitas de modo particular nesta
virtude, quando, voluntária e humildemente, te colocas sobre a direção de um confessor
e procuras seguir com sinceridade os seus conselhos e instruções? Assim, o teu espírito
de desobediência e obstinação se tornará com o tempo cada vez mais enfraquecido.
Para não aludir a outras virtudes, quero apenas acenar à alegria que deve cada um
manifestar em relação à sua vocação, ou profissão. Para que o corpo tenha saúde, todos
os seus membros (órgãos) devem preencher sãs funções a que os destinou o criador. É o
que se dá na família e na sociedade, onde tudo vai bem quando, cada qual o seu posto,
cumpre conscienciosa e alegremente os seus deveres. Esta alegria na profissão não é,
por acaso, favorecida pela boa freqüência à confissão que, em nós conserva e apura uma
terna delicadeza de consciência? Não é o teu confessor que te anima, incessantemente, a
cumprir com fidelidade todos os teus deveres? Vês, portanto, que te é a confissão
freqüente sobremodo salutar. Poderias, talvez, perguntar-me agora: quantas vezes devo
confessar-me? Aconselho-te, insistentemente, que o faças cada mês. Ou quando muito
cada dois meses.
De boa vontade o farás como for possível de acordo com as circunstâncias habituais da
vida. Se te aproximares mais vezes do Tribunal da Penitência, por ex. cada oito dias, ou
cada quinze dias, será ainda mais salutar e mais útil. Todavia, não o difiras por mais de
dois meses. Uma donzela, que raro se confessa, expõe-se ao perigo de se tornar
negligente no que respeita à salvação de sua alma e de se deixar enredar pelo mundo e
seus deleites.
Quando te confessares, prepara-te de antemão, com esmero, mas sem nenhuma
inquietação e ansiedade, para este ato mui importante. Esquadrinha seriamente a tua consciência, desperta em ti antes de tudo um bom e sobrenatural arrependimento e toma
a firme resolução e te corrigir. Em seguida dirigi-te ao confessionário e declara com
toda a humildade, singeleza e simplicidade, mas, sobretudo com absoluta sinceridade,
os pecados que cometeste desde a última confissão, por pensamentos, palavras, obras e
omissões dos teus deveres.
Terminada a confissão, vai fazer, piedosamente, a tua ação e graça, cumpre com
seriedade a penitência imposta, esforça-te em seguir fielmente as soluções tomadas,
guardando-te, porém, de qualquer inquietação infundada, de qualquer angústia ou
perturbação. Se tiveres esquecido algum pecado, ainda que este seja grave, nem por isto
será nula a confissão. Acrescentá-lo-á na próxima confissão, sem te inquietares agora,
nem te perturbares. O Santo Sacramento da Penitência deve conduzir-te à paz, e não ao
tormento e ao desassossego.

[Livro Donzela Cristã. Pe. Matias de Bremsheid - Paulinas]

Um comentário:

  1. Bom dia!
    Estou realmente muito perplexo com o seu blog!!!

    Muito bom, parabéns por tudo!

    Deus te abençoe!

    www.pensarpensamentos.blogspot.com

    ResponderExcluir