segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Contraceptivos e Maturidade Afetiva




Por Danillo Holzmann
[Fonte: http://www.teologiadocorpo.com.br]

Temos visto abertamente discussões acerca dos métodos contraceptivos - em especial a camisinha - como um meio eficaz de solucionar questões como a gravidez precoce e a aquisição de doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), dentre elas o grande vilão dos nossos dias: a AIDS. A Igreja, em oposição direta ao uso de tais recursos não se limita à razões de natureza moral, mas deixa claro também que seus motivos além de se estenderem para educativos e pedagógicos, apóiam-se sobretudo, numa antropologia que considera o ser humano em sua totalidade.

A situação da distribuição sistemática desses preservativos para adolescentes e jovens, assim como toda a chamada “educação sexual” nas escolas, que têm sido assumidas por algumas administrações públicas apresentam não só problemas de natureza ética como também, algum obstáculo para a construção da maturidade do sujeito. Primeiramente, se torna evidente que tal proposta, na verdade, é recebida por esses jovens como um incentivo ao erotismo e ao exercício de relações sexuais sem limites e sem critérios. O problema do erotismo é que é “uma atividade que separa a sexualidade da amizade e da projeção comunitária simplesmente para obter uma gratificação.(...) Faz da sexualidade um meio para atingir fins egoístas, individualistas, rebaixando-a, aviltando-a.”[1] Como conseqüência desse incentivo ao erotismo, esses adolescentes e jovens se lançam em relações precárias, fragmentadas, mentirosas e enganadoras, incapazes de dar ao corpo o seu verdadeiro significado, ou pior, ainda reduz o real valor e o seu significado esponsal (capacidade de ser dom) , diminuindo-o de sua capacidade de colaborar com a criação de relacionamentos pessoais autênticos.

Desse modo, as relações sexuais entram na lógica da sexologia moderna que resume o seu discurso apenas á dimensão do prazer sexual enquanto objeto da libido, resumindo-a a uma mera descrição da excitação de diversas zonas erógenas do corpo humano e que tem seu ápice no orgasmo produzido pela união sexual do casal. “Dentro de uma cultura que valoriza acima de tudo o prazer, a sexualidade aparece como um instrumento que visa obtê-lo de forma imediata e sem restrição de nenhum tipo.”[2] Deixando a educação sexual completamente flácida e disforme, incapaz de dar critérios para atentar á essa confusão formulada por tal mentalidade. A genitalidade é recortada do seu contexto original de realização, onde “adquire o seu verdadeiro sentido dentro do contexto geral da realidade do ser humano, homem ou mulher. Estando á serviço de uma relação conjugal que não será plenamente humana se não acontecer no seio de uma amizade ‘conjugal’, isto é, afiançada no conhecimento e no amor recíproco e disposta a criar um lar. Quando sai desse contexto, o uso da sexualidade perde o seu verdadeiro significado humano e se presta á utilização egoísta do corpo sem consideração á dignidade da pessoa humana.”[3]



Apresentar a vida sexual de um modo tão primitivo e vazio, dando a falsa imagem de que o homem para se realizar plenamente, precisa apenas lançar-se nos braços de suas pulsões, legitimando assim, hábitos para uma sexualidade vivida de maneira precoce, é não só contraproducente na construção de uma maturidade afetiva, mas extremamente nocivo à pessoa e seus efeitos negativos podem ser encontrados não apenas no sujeito, mas também, na família e na sociedade.

É uma ingenuidade, crer que um adolescente ou um jovem que tenha esgotado o seu estoque de preservativos, depois de ter sido “treinado” para o exercício de sua sexualidade sem critérios e a não fazer nenhum esforço para governar suas pulsões, renunciará a ter relações sexuais só porque não dispõe de uma camisinha no momento. Mesmo que a distribuição e uso desses preservativos pudessem prevenir o contágio, eles produzem hábitos que podem gerar sérias conseqüências na formação da personalidade e da consciência da cidadania, no rendimento nos estudos, na capacidade de dedicação a um projeto de vida positivo. Pois o sexo reduzido do seu real significado e vivido como um “lazer” ocupará o lugar da dedicação à formação da própria personalidade e à preparação, com disciplina e sacrifício, de empenhar-se à construção de uma perspectiva de vida positiva para si e para a sociedade.

Tal prática é também um verdadeiro aviltamento da pessoa humana que, dentro dessa lógica, é considerada como um ser irracional e portanto, incapaz de ser educado à responsabilidade de seus atos e ao domínio de suas próprias pulsões. Toda a expectativa do sucesso – nesse caso evitar uma gravidez precoce ou uma DST - é colocada numa solução meramente mecânica e técnica, e a técnica não resolve problemas éticos, justamente porque ela não é capaz de tornar as pessoas melhores.

Uma educação sexual que deveria promover e educar para a liberdade da pessoa humana, para a sua capacidade de escolher e de decidir a respeito da própria vida - o que é um dos objetivos de qualquer método educativo – produz, na verdade, uma “infantilização” no ser humano. A pessoa humana é reduzida em sua liberdade, é “deseducada” e incentivada a produzir comportamentos meramente instintivos e irracionais. Como se pode esperar que esses jovens e adolescentes sejam capazes de tomar nas mãos os rumos da própria vida, que sejam capazes de constituir uma família através de vínculos sólidos e estáveis? E ainda como esperar que essas pessoas, “infantilizadas” em algo tão fundamental e que “(...) perpassa de ponta a ponta a existência humana”[4], que é a sua sexualidade, possam um dia tomar em suas mãos o rumo de uma sociedade? “Reduzir a sexualidade humana a instrumento de lazer, vivido sem responsabilidade pessoal e para com as outras pessoas, é contra o bem do homem e da mulher, porque, empobrece a humanidade, inibindo a possibilidade de uma experiência humana realmente à altura da dignidade humana”.[5]

É necessário fazermos atenção para que se realmente for verdade que as instâncias que levantam a bandeira dos contraceptivos desejam dialogar com a sociedade sobre essas questões, que assumam verdadeiramente o diálogo e se tornem capazes de tomar uma postura mais respeitosa frente à problemática, argumentando racionalmente sobre as questões e não dispensando ideologias que distorcem e diminuem o discurso cristão sobre a temática a um discurso jurássico, ultrapassado e moralista. É fundamental compreender que por trás de toda a moral sexual proposta pela Igreja, está uma antropologia que valoriza a pessoa humana em sua totalidade e isso inclui o seu corpo. Tal proposta não é uma “cerca” que percebe o corpo um inimigo da pessoa, mas um “mapa” que quer levar o corpo e a sexualidade por caminhos que desenvolvam o máximo sua liberdade e dêem a eles o seu pleno desenvolvimento e significado.




[1] QUINTÁZ, Alfonso López, O Amor Humano: Seu sentido e alcance, Vozes, Petrópolis, 1995. p.22-23


[2] FLÓRES, Gonzalo, Matrimônio e Família, Trad: Antônio Efro Feltrin, São Paulo, Paulinas, 2008. p. 33 ( nota 31).


[3] Idem


[4] “a sexualidade não é (apenas) uma infra-estrutura biológica, mas uma dimensão que atravessa de ponta a ponta a existência humana.” In: GALIMBERTI, U. abud: SCOTTO, Raimondo, O Amor tem mil faces: sexualidade e vida conjugal, Cidade Nova, São Paulo, 2005. p. 18.


[5] Dom João Carlos Petrini, Doutor em Ciências Sociais, bispo auxiliar da Arquidiocese de São Salvador da Bahia e diretor da Seção Brasileira do Pontifício Instituto João Paulo II para Estudos sobre o Matrimônio e a Família em fonte não publicada.

Um comentário:

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