terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Donzela Cristã IV - O dia do Senhor


[Continuação da série de postagens do livro Donzela Cristã, Padre Matias de Bremsheid]


Um dos Santos Padres da Igreja denominou o domingo:“Rei e Príncipe de todos os
dias”. Outro opina que a vida sem domingo seria um grande deserto sem oásis.
Certamente seria uma vida triste. Pode-se dizer que o domingo é como que a raiz da
semana. De uma raiz boa e sã, brotam também galhos, folhas, flores e frutos sãos e
bons. De modo análogo, a um domingo cristãmente festejado, sucede uma semana
inteira de cunho cristão. Consiste a vida do homem em certo número de semanas, as
quais trazem impresso o selo do valor que lhes comunica o domingo, por onde
começam. Com muita razão se poderia dizer: assim como for o teu domingo, assim será
também toda a tua vida. De que modo deverá, então passar o domingo, para que se torne
uma fonte de bênçãos para a tua vida e para a eternidade futura? Eis uma pergunta de
grande importância para ti.


1º - O domingo deve ser, antes de mais nada, dia de descanso.
O descanso dominical é uma necessidade para o corpo e para a alma. Poderá alguém
trabalhar ininterruptamente, todos os dias, nos domingos e dias úteis, por um lapso do
tempo; poderá fazê-lo mesmo durante alguns anos; mas, chegará com certeza o tempo
em que as forças constantemente ativas entrarão a adormecer, ou se quebrarão de súbito.
O descanso que, à tarde se desfruta, após o trabalho diário, e um bom sono pela noite
adentro, são de grande proveito para o corpo; mas, quanto à duração não bastam para
estabelecer o necessário equilíbrio das forças. Os médicos sustentam mui
judiciosamente que, para se manter em pleno vigor, além do pequeno descanso diário,
de tempo a tempo, necessita o corpo humano de uma pausa e folga mais longa, um
maior relaxamento das forças. Isto se aplica, sobretudo, aos tempos atuais, que, pela
crescente concorrência em todos os domínios, despertam em quase todos os homens, até
mesmo nos rapazes e nas moças, maior dedicação ao trabalho. Com seu descanso maior
e mais longo repouso, é, portanto, o domingo uma verdadeira bênção para a nossa vida corporal. Lord Palmerston, conhecido estadista inglês, conservava ainda, na velhice,
grande atividade e vigor, que ele principalmente atribuía ao fato de se haver
sistematicamente abstido do trabalho dominical, em todo o percurso de sua longa vida.
O descanso do domingo é em segundo lugar, uma necessidade para o sossego da nossa
alma. Precisa também esta de repouso, e talvez ainda mais do que o corpo, para não
perecer, nem se entibiar. Isto se ajusta, principalmente, ao nosso tempo. A confusão da
vida atual gasta e arruína não só as forças do corpo, mais ainda as da alma. Quantas
lutas e contrariedades, quantas agitações e aflições não traz consigo a semana? Deve o
homem pensar em tudo, cuidar de tudo, e, muitas vezes, desde os seus mais verdes
anos!...Quanta poeira não se vê constrangido a sorver, que a pouco e pouco lhe dificulta
e embaraça também a vida espiritual! Quanta coisa se lhe depara, que o torna fraco,
impotente, e o arrasta na onda da vulgaridade!
Será para ele um grande benefício, se ao domingo puder sacudir aquela poeira e desviar
a lembrança e a preocupação das pequenas coisas; se puder dirigir seus pensamentos e
desejos para outras mais altas e maiores, para coisas celestiais e divinas. Então,
pensamentos elevados voltarão de novo à alma; pensamentos, que a conduzirão a uma
atmosfera melhor e mais pura; pensamentos, que a elevarão e lhe darão forças para se
preocupar com o que é nobre e bom. Não se afrouxará facilmente este laço feliz e
abençoado, se cada qual se limitar a ocupar-se diariamente com seu trabalho e na sua
imperturbável serenidade puder somente dedicar-se aos de fora?
Sem o descanso e a elevação da alma ao domingo, estará o homem em perigo de recair
na podridão espiritual. O descanso dominical é, finalmente, uma necessidade para a vida
da família. A vida de família só será bela e cheia de bênçãos, quando for uma vida
contente e feliz, quando o laço da unidade e do amor estreitar fortemente todos os seus
membros.
- Em conseqüência, os membros isolados da família, não se tornarão, com o tempo,
cada vez mais estranhos?
- Aquelas relações cordiais que devem reinar entre pais e filhos, não se esfriarão a
pouco a pouco?
- Deplorável seria isto para ambas as partes. O domingo, portanto, no qual, segundo o
possível, se descansa do trabalho, não será grande benefício para a família?
É então que, mais do que durante a semana, poderão pertencer-se mutuamente e discutir
entre si, com serenidade de espírito, todos os interesses da casa; reunidos em oração,
pedirão a Deus a paz e felicidade eterna e repartirão entre si felicidade e descanso no
amor. Aquele laço de unidade e cordial reciprocidade não se tornará desse modo
fortemente apertado, e a felicidade íntima da família visivelmente acrescida?


2º - O domingo é, em segundo lugar, dia de piedade e oração.
Não tenho dúvida em acreditar que também nos dias da semana, fazes a tua oração,
máxime pela manhã e à noite, e que ainda com boa e santa intenção te entregas aos
trabalhos diários e aceitas as contrariedades da vida, como se tudo pertencesse ao
serviço divino. No entanto, isso não te basta; hás de consagrar, exclusivamente, um dia
da semana, a Deus e a salvação de tua alma. Tudo o que és e tudo o que tens, a Deus deverás agradecê-Lo. Será, porventura, demasiado, que procures dedicar a Deus um dia
da semana, santificando-o pela piedade?
Deus é infinitamente grande, infinitamente perfeito e bom; a eternidade toda não te será
bastante para louvá-lO, exaltar e amar; não será, pois muito justo e razoável que, ao
menos uma vez por semana, O louves mais do que nos outros dias e Lhe rendas ações
de graças pelos seus infinitos benefícios? Deus é teu Pai, infinitamente amoroso e digno
de se amado; e tu, que és sua filha, não poderás, uma vez por semana, entreter-te com
este Pai, mais demoradamente e de maneira familiar? Não deverias de antemão alegrarte
neste colóquio com Deus, como o bom filho, ou boa filha, se alegra naqueles
momentos em que pode comodamente palestrar com seu bom pai e sua querida mãe?
Eis como deves compreender (ou empregar) o domingo, para que te seja um dia de
alegria e delícias. Se tiveres este elevado conceito de domingo, então assistirás antes de
tudo, regularmente, ao santo Sacrifício da Missa. Não há nenhum ato em que Deus mais
se compraza, do que no Santo Sacrifício que seu próprio Divino oferece pelo ministério
do sacerdote, na Santa Missa. Não existe, portanto, nenhum outro ato pelo qual possas
honrar mais a Deus e santificar o domingo.
Seja, pois, esta a tua atual e permanente resolução: quero, cada domingo, sempre que
me for possível, assistir com devoção e piedade a uma Santa Missa. Ouve também, com
boa e piedosa disposição, a palavra de Deus. A pregação é para todos nós importante,
principalmente para a mocidade, que, hoje mais do que nunca, está exposta aos maiores
perigos para a sua fé e as suas virtudes. Se a mocidade negligenciar a audição da palavra
de Deus, então, bem depressa e facilmente se tornará tíbia e frouxa na sua santa fé e nas
suas virtudes cristãs. Não foi em vão o que disse o Divino Salvador: “O homem não
vive só de pão, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus”. (Mat., 4,4)
Recebe também, com boa preparação e piedade, os santos Sacramentos da Penitência e
da Eucaristia. Quanto mais freqüentemente o fizeres, tanto melhor para ti. Lograrás,
então, graças cada vez mais abundantes para o combate contra o pecado e para a prática
das virtudes. Permite-me ainda aconselhar-te a assistires, depois do meio dia, ou à noite,
em alguma igreja, a algum ato ou função religiosa; ou em tua própria casa, por algum
tempo, leres um livro; ou, por amor de Deus, visitares um doente, ou dares uma esmola
a um pobre. Se santificares assim o domingo, como Deus não ficará contente e que de
bênçãos abundantes não derramará sobre ti!


3º - O domingo deve ser, finalmente, dia de alegria.
Por certo, aqui não me refiro àquelas alegrias e prazeres ruidosos e dissolutos, que não
são verdadeiras folga, nem verdadeiro descanso e desafogo, antes fatigam o corpo e a
alma; não aludo àqueles pecaminosos e perigosos prazeres que destroem todas as
bênçãos do domingo e convertem o dia do Senhor em dia de Satanás.
Quando digo que o domingo deve ser dia de alegria, refiro-me, antes de tudo, àquela
alegria e àquela elevação espiritual e interior... Falo também da alegria que
experimentas numa agradável conversa com os teus queridos parentes, na visita a uma
boa amiguinha ou conhecida, numa serena e moderada recreação com outras
companheiras ou num passeio coletivo que te proporciona o ensejo de admirares os
encantos da natureza.

São alegrias que poderás lograr depois dos trabalhos e fadigas de toda a semana;
alegrias que te fazem forte e disposta para os trabalhos de uma nova semana; alegrias,
que contêm uma abundância de benção para a vida doméstica, quando se desfrutam de
maneira justa e razoável, depois de se ter devota e piedosamente, assistido ao serviço de
Deus, ou praticado uma boa ação. Muito a propósito poderei citar aqui as palavras do
grande Apóstolo: "Alegrai-vos incessantemente no Senhor; outra vez digo. Alegraivos!”
(Filip., 4,4) Eis o que o domingo deve ser para ti – dia de descanso, de devoção,
de alegria.

Um comentário: